terça-feira, 26 de julho de 2016

Células – Uma nova velha estratégia

Células – Uma nova velha estratégia

“Ninguém põe remendo de pano novo em veste velha; porque o remendo tira parte da veste, e fica maior a rotura. Nem se põe vinho novo em odres velhos; do contrário, rompem-se os odres, derrama-se o vinho, e os odres se perdem. Mas põe-se vinho novo em odres novos, e ambos se conservam.” Mateus 9:16-17

Células ou pequenos grupos são um assunto crescente nos nossos tempos. Causa muito temor, haja vista os exageros promovidos em igrejas que abraçaram essa estratégia e que chegou a causar divisão. Entretanto, essa estratégia, que muitos olham com certo temor, não se trata apenas de mais um meio de crescimento.
A passagem bíblica do vinho e do odre explica bem o que está acontecendo.
Sabemos que a nossa sociedade está em transformação e com o avanço tecnológico, mais e mais mudanças ocorrem, de maneira que temos muita dificuldade em acompanha-las. A igreja está inserida neste mundo e tem o desafio de discernir os tempos como os da tribo de Issacar (I Crônicas 12:32) para saber como ela, igreja, sendo o Israel de Deus, deve agir para pregar o Evangelho de Jesus Cristo.
Se por um lado, a sociedade está mais secularizada (deixando Deus de lado), pluralizada (dizendo que as verdades são relativas), privatizada (cada um vivendo por si, buscando a felicidade própria sem valores morais cristãos e se isolando cada vez mais), desconfiada e desacreditada com as instituições, por outro lado, a igreja tem nesses perigos uma grande oportunidade. Sim!
Nunca se viu tantas pessoas com depressão e famílias tão desestruturadas e tantos “desigrejados” que desacreditam da instituição igreja. Temos resposta para isso? Sim! O Evangelho é sempre atual, pois, propõe a cura para o mal do homem que se chama pecado. Porém, não dá para responder aos anseios do homem atual do século XXI usando um modelo que funcionou no século XX.
O vinho novo (evangelho) é sempre atual, mas os odres (estruturas) envelhecem e o evangelho não fica preso a essas estruturas. O evangelho (vinho novo) rompe sim com os odres velhos (estruturas velhas). As pessoas estão carentes de referências e essência. Elas querem significado. Elas querem vida!
Por isso, acredito firmemente que essa crescente de igrejas em células ou pequenos grupos tem oferecido uma reposta tanto para os de dentro como para os de fora da vida da igreja.

Você já parou para pensar que o paradigma atual de igreja tem gerado mais consumidores de culto do que efetivamente discípulos de Cristo? As pessoas “pagam” seus dízimos e exigem que lhes sejam prestados o melhores serviços religiosos. Elas pagam por uma boa pregação, por um bom louvor, por uma bom culto infantil para seus filhos e quando acham que não está com boa qualidade, procuram outro “supermercado da fé” para comprarem serviços religiosos melhores. São verdadeiros consumidores de culto.
Estatisticamente vemos que as igrejas assim possuem 80% de consumidores e 20% de trabalhadores que poderiam estar ganhando vidas e discipulando, mas que estão na verdade procurando forma de manter os outros 80% satisfeitos. Esse definitivamente não é o modelo bíblico de igreja que Jesus tinha em mente quando a inaugurou. Seu imperativo foi: “Fazei discípulos”.
Então, vem a pergunta chave: “De que maneira a igreja pode responder aos anseios da sociedade atual sem que seus membros se tornem meros consumidores, mas que TODOS (sem exceção) estejam ativos como membros no corpo de Cristo?” A resposta é células.

O que são células?

O corpo humano é composto por milhares de pequenas unidades que se juntam para formar o corpo como um todo. Essas unidades são chamadas células. Um bebê tem seu início em uma pequena célula no útero da mãe, então ela cresce e se multiplica em duas células. Essas duas células transformam-se em quatro, as quatro em oito, as oito em dezesseis e assim por diante.
Uma célula transforma-se em um corpo humano, cheio de vida e maravilhoso! Como as células do corpo humano, as células da Igreja são pequenas. Quase não são percebidas, porém, fundamentais. Elas nascem, crescem e, em determinado momento, elas se multiplicam dando vida a outra célula e, desse modo, a Igreja – como o corpo humano - cresce e se estabelece. 1 Coríntios 12:27 “Ora, vocês são o corpo de Cristo, e cada um de vocês, individualmente, é membro desse corpo.”
A célula é um grupo de oito a quinze pessoas que formam uma comunidade numa casa semanalmente para experimentar o amor de Deus, para crescer no relacionamento com os outros e para alcançar os incrédulos.

Ativamos o corpo de Cristo levando cada membro a reconhecer que é um ministro. Muitos pensam apenas no pastor como o único ministro. Mas, não é assim. Se Jesus quisesse que somente os sacerdotes fossem ministros, ele não teria escolhidos pescadores e iletrados para serem seus discípulos, mas teria ido à sinagoga ou ao sinédrio e levantado entre os sacerdotes fariseus e saduceus como seus discípulos.
O pastor, na verdade, se torna um capacitador de ministros na comunidade local. Ele deixa de ser um “capelão” que socorre os membros que vivem doentes (problemas e mais problemas), e leva as pessoas a assumirem o sacerdócio universal (I Pedro 2:9). Um membro que é ministro assume um coração de servo para atender aos desafios do Reino.
A visão de uma igreja que trabalha em células é que cada membro seja um ministro e cada casa uma igreja.
Cada casa uma igreja? Sim! A igreja não são as quatro paredes. As quatro paredes se chamam prédio da igreja, local onde a igreja (as pessoas) se reúnem. A palavra igreja significa ajuntamento ou assembleia. Por ser a igreja de Deus, ela é também chamada de assembleia (ajuntamento) dos santos. Ninguém é igreja sozinho. É antibíblico ser desigrejado. A igreja é um corpo vivo. Ela é orgânica, portanto, composta de membros. Somos igreja quando nos reunimos. Em 1 Pedro 2:4-10, o apóstolo Pedro nos ensina que somos a Casa Espiritual edificados sobre Cristo. Cada membro ou ministro é uma pedra viva nessa edificação. Deus não habita em templos feitos por mãos humanas (Atos 7:48). Ele habita em mim e em você. Nós somos a igreja de Deus juntos. Portanto, quando um grupo de pessoas se reúnem numa casa para desfrutar do poder, da presença e do propósito de Cristo, então, lá naquela casa está a igreja. Paulo diz em Efésios 2:22 que somos edificados para a habitação de Deus no Espírito e que somos templos do Espírito Santo em I Coríntios 6:19. Por isso, eu sou habitação de Deus e quando me reúno com os meus irmãos, somos igreja.

Então vem a pergunta: “Se eu participo de uma célula não preciso ir aos cultos no prédio da igreja?” Claro que deve ir. Pense na igreja (não no prédio da igreja, mas nas pessoas) como um avião. O avião precisa de duas asas para decolar. Uma asa se chama a grande celebração, ou as reuniões que fazemos no prédio da igreja. Para que prédio? O prédio é o lugar onde capacitamos os ministros de Deus e celebramos juntos com todas as células. A outra asa se chama células ou pequenos grupos, onde compartilhamos a vida de Deus e abrimos nossos corações acerca daquilo que Deus falou conosco no domingo, na grande celebração. É nesse ambiente que crescemos em comunhão e preparamos os ministros. Portanto, uma não exclui a outra, mas se completam.

Quais os fundamentos essenciais de uma igreja em célula?

1.Células - O poder, a presença e o propósito de Cristo
As células têm como propósito que seus participantes tanto o não cristão, o novo na fé quanto os mais experientes conheçam a Cristo e cresçam em viver para as expectativas de Jesus Cristo numa realidade constante da sua Presença. Veja que as células não são um fim em si mesmo. Se o propósito da célula não for a presença de Cristo, será apenas mais uma reunião qualquer. Vale destacar que a igreja primitiva não tinha prédios. Os primeiros cristãos se reuniam e viviam como igreja nos cenáculos que eram as grandes salas das casas onde faziam as refeições. A igreja começou num cenáculo (Atos 1:13). A descida do Espírito Santo no dia de Pentecostes foi numa casa (Atos 2:1-2). Mesmo com três mil pessoas, eles conservavam as reuniões nas casas (Atos 2:46). As reuniões nos lares eram uma estratégia evangelística (Atos 5:42; Atos 10:24-48). A perseguição da igreja aconteceu nas casas porque a igreja era nas casas (Atos 8:3). Saulo foi curado e restaurado numa casa (Atos 9:17-19). Batismos aconteciam nas casas (Atos 9:36-41; Atos 16:30-33). Repetidas vezes Paulo encerrava suas cartas escrevendo direcionado à igreja na casa de alguém (Romanos 16:5; I Coríntos 16:19; Filemon 1-2). A presença e o poder de Cristo se manifesta onde a igreja (pessoas) está reunida.

2.Células - Teologia da igreja em células
No caminho do discipulado cristão um a um e no compartilhar das células, a teologia da igreja em células não é diferente de numa igreja que se diz evangélica, isto é, sua mensagem está centrada na cruz de Cristo, e sua humilhação, bem como o caminho da glorificação. A mensagem da cruz fala de serviço e viver em células é viver para servir tanto ao não crente como aos irmãos. Viver uma vida de fé e serviço só é possível através da cruz, do negar-se a si mesmo por amor a Deus e ao próximo. As células são ambientes propícios para crescermos na vida espiritual poderosa e vibrante em serviço.

3.Células – Cuidado pastoral, discipulado e saúde espiritual
Para o verdadeiro conhecimento da natureza, caráter e ministério de Jesus, é necessário uma vida individual e comunitária saudável. É indiscutível que vemos os grupos pequenos e células, dentro do Corpo maior de Cristo, como o melhor ambiente para o nascimento, discipulado, encorajamento e cuidado dos crentes. (§ 6060 item 6 do Manual da Igreja Metodista Livre).
John Wesley, o fundador do metodismo, tinha tanta convicção de que esse ambiente era saudável que fundou as sociedades, classes e bandas.
As classes de Wesley eram como nossas células. Veja: Wesley viu a oportunidade pastoral que se apresentava pela estrutura prática das classes: os líderes das classes (indicados por Wesley: “aqueles em quem posso confiar”) se tornaram guias espirituais de seu grupo. Wesley, sempre que possível, se reunia com os líderes semanalmente. A Sociedade de Londres tinha nessa época mais de mil membros, e esse método ajudou Wesley a vencer as dificuldades de poder conhecer cada pessoa nas sociedades que cresciam rapidamente e estender o toque pessoal de sua supervisão pastoral (e disciplina). Por razões as mais variadas, tornou-se mais vantajoso reunir os membros das classes do que visitá-los em suas próprias casas. Desse modo, como Wesley disse: “uma inquirição mais completa foi feita sobre o comportamento de cada pessoa... conselhos ou reprovações eram dados sempre que exigidos, as brigas foram apaziguadas, desentendimentos foram removidos; e depois de uma hora ou duas passadas neste serviço de amor, eles concluíam com preces e ações de graças” (Societies, 262).
As classes (...) continham todas as pessoas da sociedade, não apenas aquelas que voluntariamente se agrupavam. Permitiam o exercício da disciplina entre toda a sociedade. (Heitzenrater, 1996, p. 117-119)

4.Células – Treinar para evangelizar, liderar e Multiplicar
O projeto de Deus é que o evangelho se expanda a todas as nações. Deus quer filhos! Os crentes devem ser preparados para viverem e proclamarem as Boas Novas e gerar esses filhos para Deus. O que mais traz alegria a Deus não são os nossos cultos avivados e boas músicas, danças e boas pregações. Não! O que traz alegria a Deus e ao céu é um pecador arrependido se convertendo a Cristo. Basta ler Lucas 15:7. Isso condiz com a ênfase na evangelização e no discipulado. Vivemos na prática essa capacitação através das células, ganhando pessoas para Cristo, edificando-as, consolidando-as e enviando-as para fazer novos discípulos.
Entendemos que para isso, cada ministro (cada membro) deve fluir nos cinco ministérios de Efésios 4:11. Eles devem ser preparados para no ambiente da célula evangelizar, cuidar (pastorear), ensinar (o mestre), profetizar (edificar, consolar e exortar) e enviar ou ir, que é o aspecto apostólico. Não entendemos como títulos, mas como funções que todos os ministros em alguma medida já exercem. Você já consolou alguém certamente. Você já aconselhou alguém certamente. Você já falou de Jesus para alguém certamente. Você já tirou dúvidas sobre a bíblia para alguém certamente. Perceba que é mais simples do que imaginamos. A evangelização, a formação de líderes e a multiplicação é algo natural de uma igreja saudável.

Concluo desafiando você a assumir sua identidade de ministro e liderar uma célula. Cumpra a grande comissão! Gere filhos para Deus e faça a diferença.

No amor de Cristo,
Rodrigo Rodrigues Lima, Pastor

Igreja Metodista Livre de Vila Moraes

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