quinta-feira, 1 de novembro de 2018

Orientações sobre o jejum


Orientações sobre o jejum

O jejum é a completa abstinência de alimento, exceto água, por um período determinado de tempo acompanhado de consagração e oração. Mais do que qualquer outra disciplina espiritual, o jejum é alvo mais frequente de ataques e resistências.
Para muitos hoje, a ideia de ficar sem comer por vinte e quatro horas parece extremamente penosa e muitos possuem o falso conceito de que o jejum é prejudicial para o organismo. Além disso o jejum não é uma prática exclusivamente cristã, mas é praticado por budistas, hinduístas e muçulmanos, por causa disso é visto com desconfiança por muitos cristãos sinceros.
O jejum, porém, não deve ser entendido apenas como abstinência de alimentos. É preciso também haver muita oração. No mundo as pessoas fazem greve de fome, visando proeminência e poder político, mas isso não é jejum. Também há aqueles que fazem dieta para emagrecimento usando o jejum, mas isso não é o jejum bíblico. Essas duas coisas não são erradas, mas não são jejum bíblico, pois este tem um objetivo unicamente espiritual.
Além disso, quando se jejua o corpo, como defesa, começa a queimar as calorias mais devagar tentando se proteger. Dessa forma, enquanto você não está comendo, você perde peso, mas, quando volta a comer normalmente, seu corpo ainda leva um tempo para se reprogramar e não queima as calorias como antes e, como resultado, você acaba mais gordo do que antes.

Existe uma ordem bíblica para jejuar?
Não há regras na Bíblia sobre quando e como jejuar. Também não existe uma ordem bíblica para jejuar. No Velho Testamento, havia somente um dia de jejum, instituído para toda a nação: o dia da Expiação (Lv 23.27). Mais tarde, nos dias de Jeremias, esse dia ficou conhecido como “o dia do jejum” (Jr 36.6). Quando lemos os ensinos de Jesus, não há como negar que o Senhor espera que jejuemos.
Quando jejuardes, não vos mostreis contristados como os hipócritas; porque desfiguram o rosto com o fim de parecer aos homens que jejuam. Em verdade vos digo que eles já receberam a recompensa. Tu, porém, quando jejuares, unge a cabeça e lava o rosto, com o fim de não parecer aos homens que jejuas, e sim ao teu Pai, em secreto; e teu Pai, que vê em secreto, te recompensará. (Mt 6.16-18)
Observe que o Senhor não disse “se jejuardes...”, mas “quando jejuardes...” Isso revela que Ele esperava que os discípulos jejuassem. Ele até os instruiu quanto à motivação e à maneira como deveriam jejuar. Mas o Senhor deixou bem claro que a prática do jejum nos moldes dos fariseus estava errada. A motivação era impura, as pessoas jejuavam para mostrar aos outros sua espiritualidade e religiosidade supostamente superior. O Senhor disse que a maneira correta de jejuar é sem alarde, em secreto. O jejum é uma completa perda de tempo quando feito com motivação errada. Por outro lado, se jejuarmos da maneira de Deus, certamente a nossa oração será ouvida.

Qual é o propósito do jejum?
Não veja o jejum como uma espécie de penitência que você faz com o intuito de persuadir Deus a fazer algo que Ele não quer fazer. O jejum não muda Deus. Ele é o mesmo antes, durante e depois de seu jejum. Mas jejuar com certeza mudará você. Vai ajudar você a ser mais sensível ao Espírito de Deus.
O jejum toca em nossa carne. O jejum não tornará Deus mais bondoso ou misericordioso para conosco, mas rompe com as barreiras e limitações da nossa carne e nosso corpo. Qualquer um que procura mais intimidade com Deus já percebeu o quanto o nosso corpo pode ser um obstáculo para essa comunhão. Quando jejuamos o corpo se abate, o nosso espírito se levanta e nossa fé é liberada com mais ousadia, assim podemos ter mais enchimento do Espírito Santo.
O propósito primário do jejum é mortificar a carne para nos fazer mais sensíveis ao Espírito Santo. Não pense, porém, que o jejum tem algum poder nele mesmo como uma espécie de poder mágico. A verdade é que o jejum ajuda a liberar a nossa fé. A fé está em nosso espírito, e quando o espírito é liberado, a fé se manifesta. O que nos dá vitória sobre o inimigo é o que Cristo fez na cruz e a autoridade do seu nome. O jejum em si não nos faz vencer, mas libera a fé para o combate e nos fortalece, fazendo-nos mais conscientes da autoridade que nos foi delegada.

Qual deve ser a frequência do jejum?
Só existia um jejum anual exigido na lei de Moisés, no dia da Expiação, em Levítico 23.27. Entre os primeiros cristãos, era uma prática estabelecia ter dois jejuns semanais, às segundas e quartas. Isso está registrado no “Didaquê”, uma obra do primeiro século que fala dos costumes dos primeiros cristãos.
Não existe hoje nenhum mandamento para que os cristãos jejuem, mas há épocas em que frequentemente sentimos mais necessidade de jejuar, porém, penso que um jejum normal de um dia de duração seja algo que todo cristão deveria praticar sistematicamente, mesmo sem sentir nenhuma necessidade espiritual para isso.

Qual a duração do jejum?
A Bíblia não determina regras desse tipo, portanto cada um é livre para escolher quando, como e quanto jejuar. Nas Escrituras existem vários exemplos de jejuns:
·         1 dia - O jejum do Dia da Expiação
·         3 dias - O jejum de Ester (Et 4.16) e o de Paulo (At 9.9)
·         7 dias - O jejum por luto pela morte de Saul (1 Sm 31.13)
·         14 dias - O jejum de Paulo no navio (At 27.33)
·         21 dias - O jejum de Daniel em favor de Jerusalém (Dn 10.3)
·         40 dias - O jejum do Senhor Jesus no deserto (Lc 4.1,2)
A Palavra de Deus também fala a respeito do jejum de Moisés e de Elias (Ex 34.28; 1 Re 19.8). Eles jejuaram por períodos de quarenta dias, mas todos os estudiosos concordam que esses jejuns foram sobrenaturais. Eles nem sequer beberam água nesses quarenta dias, o que é humanamente impossível.
A Bíblia diz que Elias caminhou quarenta dias no deserto com a força do alimento que o anjo lhe trouxe. Ele recebeu uma comida sobrenatural para realizar um jejum também sobrenatural. A respeito de Jesus, o evangelho diz que no final de quarenta dias Ele teve fome, mas não se menciona que teve sede. Isso deve indicar que Jesus fez um jejum normal com a duração de quarenta dias. Mas tenha muito cuidado ao fazer o voto de um jejum para que seu voto não seja insensato e depois venha a quebrá-lo. A Palavra de Deus é muito séria quanto aos votos:
Quando a Deus fizeres algum voto, não tardes em cumpri-lo; porque não se agrada de tolos. Cumpre o voto que fazes. Melhor é que não votes do que votes e não cumpras. (Ec 5.4,5)
É importante que você tenha um alvo quanto à duração do jejum no coração, mas não transforme isso em voto. O mais comum em nosso meio são os jejuns de um dia durante vários dias. Duas vezes por ano jejuamos 21 jejuns de um dia, ou seja, durante 21 dias jejuamos com uma refeição por dia. Se você planeja fazer um jejum de mais de três dias, precisa receber uma orientação especial.
Quais são os tipos de jejum?
São mencionados na Bíblia pelo menos três tipos de jejum.

1. O jejum parcial
O jejum parcial se refere mais a uma dieta restrita do que à abstinência. O exemplo clássico é Daniel. Não por acaso, o jejum parcial é muitas vezes chamado pelos irmãos de jejum de Daniel.
Naqueles dias, eu, Daniel, pranteei durante três semanas. Manjar desejável não comi, nem carne, nem vinho entraram na minha boca, nem me ungi com óleo algum, até que passaram as três semanas inteiras. (Dn 10.2,3)
A Palavra de Deus não diz qual foi a sua dieta durante o jejum, mas se tomarmos como padrão o que Daniel fez logo que chegou à Babilônia, podemos supor que o seu jejum incluía apenas legumes, frutas e água. O texto, porém, diz claramente que o profeta Daniel ficou sem ingerir carne, vinho e manjar desejável. Creio que podemos incluir João Batista nesse tipo de jejum. Ele na verdade vivia uma vida “jejuada”, sua dieta consistia apenas de gafanhoto e mel silvestre. Um jejum muito comum hoje em dia é o jejum apenas com líquido. Mas se você deseja fazer um jejum parcial, o melhor é que pare de comer carne e doces e coma apenas legumes e frutas. Além de ser muito saudável, esse jejum tem grande poder espiritual.

2. O jejum normal
O jejum normal é aquele em que nos abstemos de todo tipo de comida, mas não deixamos de beber água. O jejum de Jesus certamente foi um jejum normal. A Bíblia diz que Ele não comeu, mas não afirma que Ele bebeu. Diz que Ele teve fome, mas não que teve sede. Como a água não é alimento, concluímos que Ele bebeu água durante os quarenta dias de jejum.
Jesus, cheio do Espírito Santo, voltou do Jordão e foi guiado pelo mesmo Espírito, no deserto, durante quarenta dias, sendo tentado pelo diabo. Nada comeu naqueles dias, ao fim dos quais teve fome. (Lc 4.1,2)
Eu recomendo que você não faça jejum sem beber bastante água. O jejum normal é o tipo mais apropriado para a prática regular do jejum.

3. O jejum total ou absoluto
Esse é o jejum que exclui tanto o alimento quanto a água. A água não é alimento, e nosso corpo depende dela a fim de que os rins funcionem normalmente e as toxinas não se acumulem no organismo. A maior duração bíblica desse tipo de jejum é de três dias, provavelmente porque é o máximo possível para não prejudicar o organismo.
Há dois exemplos bíblicos deste tipo de jejum, um no Velho e outro no Novo Testamento. Paulo estava indo pelo caminho de Damasco quando se encontra com o próprio Cristo, que se revela a ele e o confronta. Depois disso ele fica três diz de jejum total.
Esteve três dias sem ver, durante os quais nada comeu, nem bebeu. (At 9.9)
O outro exemplo é o de Ester. Num momento de crise em que os judeus estavam condenados à morte por um decreto do rei, ela pede a seu tio Mordecai que faça um jejum total por ela.
Vai, ajunta a todos os judeus que se acharem em Susã, e jejuai por mim, e não comais, nem bebais por três dias, nem de noite nem de dia; eu e as minhas servas também jejuaremos. Depois, irei ter com o rei, ainda que seja contra a lei; se perecer, pereci. (Et 4.16).
Não há qualquer outra menção de um jejum total maior do que esses, exceto o de Moisés e Elias, que foram sobrenaturais. Um jejum sem água pode ser letal para o organismo. Lembre-se de que nossa luta é contra a carne (natureza e impulsos) e não contra o nosso corpo.

4. Orientações práticas sobre o jejum
Existem muitas dúvidas a respeito do jejum, mas, se agirmos com bom senso, poderemos lidar com todas elas. Não pense que o jejum é uma disciplina espiritual complicada reservada apenas aos mais espirituais. As coisas de Deus são simples, por isso encare o jejum com simplicidade e bom senso.
Quando o jejum não é recomendadoExistem pessoas que não podem fazer um jejum normal. Pessoas que estão sob medicamento controlado, diabéticos, mulheres grávidas e qualquer pessoa doente não deve jejuar com abstinência completa de alimentos. Creio que para muitas delas seja possível fazer o jejum parcial, em que se absterão apenas de alguns tipos de comida. Em todo caso, é importante consultar um médico. Só ele pode dar uma orientação de como agir em cada caso.
Dores e enjoos – É normal ter dor de cabeça no início de um jejum, mas qualquer outra dor é sinal de que há algo errado, por isso procure um médico imediatamente. O primeiro dia é o mais difícil por causa da dor de cabeça. Ela é um sinal de que o seu corpo entrou num processo de purificação e as toxinas existentes no organismo estão sendo expelidas.
Mal-estar físico – É normal sentir pequenas tonturas durante um jejum prolongado. A melhor maneira de lidar com elas é evitando se movimentar bruscamente ou rapidamente.
Fraqueza e desânimo – É normal que você se sinta mais fraco, mas a fraqueza não pode ser confundida com desânimo.
Líquido – Para quem tem dificuldade de beber água durante o jejum, tente beber sucos leves. Evite os engarrafados e os refrigerantes. Você pode também beber sucos de vegetais passados na centrífuga e diluídos em água. Tudo, porém, depende do tipo de jejum que você decidiu fazer.
Água – É melhor que a água não seja gelada. Se não quiser tomar suco, você pode pingar algumas gotas de limão ou de laranja num copo d’água, ou ainda um pouco de mel. Lembre se de beber pelo menos dois litros de água por dia.
Exercício – Evidentemente o tempo de jejum não é o momento para fazer academia e musculação, mas você pode fazer caminhadas, sem se expor muito ao sol. Orar caminhando vai te ajudar a jejuar usufruindo tanto os benefícios espirituais quanto os físicos.
Jejum no trabalho – Escolha um tipo de jejum que seja mais apropriado ao seu trabalho. O melhor é jejuar de almoço a almoço. Se você deseja fazer um tempo mais prolongado de dois ou três dias, então o faça no final de semana.
Magreza – Mesmo as pessoas magras podem jejuar normalmente. Nem todo magro o é porque come pouco, assim, pode ser que tenham as mesmas dificuldades para jejuar que uma pessoa mais pesada. As pessoas magras recuperam o seu peso normal mesmo depois de um jejum mais prolongado.
Insônia – Algumas pessoas sentem insônia ou ficam com o sono mais leve durante o jejum. Isso acontece porque a mente fica superativa. Por isso evite muita atividade antes de dormir e resista à tentação de dormir durante o dia. Descanse, mas não durma, se quiser evitar a insônia à noite.
Relações sexuais – Muitos casais se abstêm de comida e também de relações sexuais durante o jejum. A Palavra de Deus orienta que isso pode ser feito somente com o consentimento do cônjuge (1Co 7.5). Evite incluir a abstinência sexual no seu jejum para não incorrer em tentações.