sábado, 2 de maio de 2020

MINISTÉRIO FEMININO NA IGREJA PODE?! ESTÁ NA BÍBLIA?


MINISTÉRIO FEMININO NA IGREJA PODE?! ESTÁ NA BÍBLIA?

O ministério feminino na igreja pode sim e está na Bíblia.
Vamos sistematizar a resposta a respeito deste tema tão importante. Existem algumas posições distintas a respeito do tema.

Existem pessoas que fazem uma leitura literal da Bíblia, isto é, sem considerar o contexto no qual foi escrita e entendem que a mulher não pode exercer qualquer ministério na igreja local. Existem outros que reconhecem o ministério feminino, mas não aceitam a ordenação feminina, portanto, não reconhecem pastoras ordenadas. E aí? Pode ou não pode?

Não fazer uma análise do contexto histórico cultural no qual as mulheres viviam é ignorar uma realidade de opressão, ódio e desprezo a elas. A posição de uma mulher era inferior aos homens em todos os aspectos. A sociedade israelita do Antigo Testamento era extremamente patriarcal. Um ditado rabínico afirmava que todo homem devia agradecer diariamente a Deus por não ter nascido mulher, nem pagão e nem operário. Alguns rabinos chegaram ao extremo de considerar que a mulher não possuía alma e que era preferível queimar a Lei do que ensiná-la a uma mulher. Em livros apócrifos dizem: “o Testamento dos Patriarcas dificilmente as vê (mulheres) como algo além de dar ensejo à fornicação.”

Esperar que as mulheres tenham espaço para ordenação ao ministério nesse período de tanta opressão e preconceito é impensável. Podemos perceber claramente que desafiar o status quo (a situação atual) poderia causar muito mais perseguição para a igreja. O mesmo se aplica à questão da escravidão e Paulo recomendava aos escravos: “ – Escravos, obedeçam em tudo a seus senhores aqui na terra, não servindo apenas quando estão sendo vigiados, visando somente agradar pessoas, mas com sinceridade de coração, temendo ao Senhor.” (Colossenses 3:22). Concluímos, por essa razão, que a Bíblia é a favor da escravidão? É óbvio que não. Paulo diz expressamente: “Assim sendo, não pode haver judeu nem grego; nem escravo nem liberto; nem homem nem mulher; porque todos vocês são um em Cristo Jesus.” (Gálatas 3:28). É claro que Paulo está tratando da salvação neste trecho, mas a salvação envolve a restauração da imagem de Deus, o projeto original antes da queda do homem.

Olhando para Jesus e sua relação com as mulheres, a sua obra redentora e o derramamento do Espírito Santo, como devemos ver a mulher na nova aliança e como interpretar passagens bíblicas em que Paulo ordena que elas permaneçam em silêncio? Deus não faz distinção entre homem e mulher. Por isso, homem e mulher desfrutam de igualdade diante de Deus e ambos podem exercer o ministério pastoral ordenado. Por quê?

a)   Porque a criação fundamenta isso.
“Assim Deus criou o ser humano à sua imagem, à imagem de Deus o criou; homem e mulher os criou. E Deus os abençoou e lhes disse: - Sejam fecundos, multipliquem-se, encham a terra e sujeitem-na. Tenham domínio sobre os peixes do mar, sobre as aves dos céus e sobre todo animal que rasteja pela terra.” (Gênesis 1:27-28). Perceba que desde a criação o homem e a mulher desfrutam da imagem divina e possuem o mesmo domínio sobre a criação. Na criação, homens e mulheres possuem igualdade.  
Quando o domínio do homem veio sobre a mulher? Após a QUEDA! Veja o que Deus diz: “O seu desejo será para o eu marido, e ele a governará.” (Gênesis 3:16b). Podemos afirmar que isso foi uma consequência do pecado e não reflete o projeto original antes da queda.

b)  Porque Jesus afirma essa igualdade
Tudo o que Jesus fez deve modelar a vida dos seus discípulos e de sua igreja. Jesus nasceu de uma mulher (Gálatas 4:4). Nos quatro evangelhos, as mulheres participam do Reino promovido por Jesus, mas de uma forma ativa e engajada. Jesus aparece curando e restaurando a dignidade de mulheres, transmitindo-lhes ensinamentos acerca de relações familiares, étnicas, econômicas e sociais. Elas são retiradas de um contexto de doença, opressão e exclusão e são inseridas ativamente no seguimento, discipulado, ensino e prática de transformação. Mulheres pobres, viúvas, divorciadas ou solitárias foram acolhidas por Jesus. I) A Sogra de Pedro é curada e passa a servir a Jesus (Marcos 1:29-31). No judaísmo, não era recomendado que mulheres servissem à mesa para não se acostumarem entre os homens. O serviço dela mostra sua gratidão, mas também revela que ela se tornará uma discípula de Jesus e viverá dentro de uma nova comunidade não marcada pela hierarquia, mas pelo serviço mútuo revelando a igualdade entre homens e mulheres no Reino, no qual o serviço é o ideal de discipulado de Jesus. II) A mulher que sofria de hemorragia há 12 anos (Marcos 5:25-34). Ela vivia à margem da sociedade, que no contexto religioso, a considerava impura. Tudo o que ela tocasse também se tornaria impuro. Jesus rompe diversas barreiras com aquela mulher. Ao ser tocado por ela Jesus: a) Rompe com o mito da contaminação, pois ela é curada; b) Jesus a faz falar em público. Mulheres não podiam falar em público até mesmo com os seus maridos; c) Jesus restaura a dignidade dela como mulher. Ela poderá ter filhos, pois não sofrerá mais dessa hemorragia; Ela poderá viver em sociedade, pois, Jesus a cura de uma doença que marginalizava. III) A mulher siro-fenícia (Marcos 7:24-30). Jesus atende ao pedido de uma mulher não judia e cura a sua filha. As mulheres de outras nações eram tidas como animais. IV) A mulher samaritana (João 4:1-42). Jesus fala com uma mulher publicamente. Jesus se dirige a alguém que é de Samaria. Seus discípulos ficam pasmos. Muitos crerão nele em Samaria por causa do testemunho dela. V) A viúva pobre (Marcos 12:41-44). Essa mulher era marginalizada por duas razões: a) Ela era viúva; b) Ela era pobre. Ela é um exemplo de abnegação e exemplifica o modelo de discipulado que espera de nós. Além de trazer destaque público a ela como exemplo de verdadeira espiritualidade e adoração. VI) A mulher que unge Jesus em Betânia (Marcos 14:3-9). Essa mulher invade um espaço tipicamente masculino e serve a Jesus. VII) A morte, o sepultamento, a ressurreição de Jesus e as mulheres (Marcos 15:40-11; 16:1-11). Diferentemente de boa parte dos discípulos acovardados, elas permanecerão aos pés de Jesus na crucificação, buscarão embalsamar o corpo dele, o verão ressurreto primeiro e anunciarão em primeira mão a Sua ressurreição.

Assim, Jesus põe fim à maldição da queda, introduz as mulheres em seu Reino e traz a elas a benção da igualdade tal qual na criação. Stott afirma que: “[...] a igualdade sexual, estabelecida na criação, mas pervertida pela queda, foi recuperada pela redenção, que está em Cristo. O que a redenção soluciona é a queda, o que ela recupera e restabelece é a criação.” Portanto, Jesus restaura a imagem de Deus e torna a todos participantes de sua graça.”

c) Porque a descida do Espírito Santo e a distribuição de dons atestam essa igualdade
“E acontecerá, depois disso, que derramarei o meu Espírito sobre toda a humanidade. Os filhos e as filhas de vocês profetizarão, os seus velhos sonharão, e os seus jovens terão visões. Até sobre os servos e sobre as servas derramarei o meu Espírito naqueles dias.” (Joel 2:28-29)
O texto é claro! O Espírito Santo não faz distinção de gêneros. Quando diz “toda a humanidade” inclui mulheres e até escravas. Fala-se dos dons espirituais como evidência, o que independente de gênero. “Felipe tinha quatro filhas solteiras que profetizavam. (Atos 21:9). As mulheres profetizavam, e por uma questão situacional em Corinto, usavam o véu: Toda mulher, porém, que ora ou profetiza com a cabeça descoberta desonra a sua própria cabeça.” (I Coríntios 11:5). Vale ressaltar que na lista dos dons espirituais, não há qualquer distinção de gênero na distribuição deles. “E há diversidade nas realizações, mas o mesmo Deus é quem opera tudo em todos, A manifestação do Espírito é concedida a cada um visando um fim proveitoso.” (I Coríntios 12:6-7) e, o mesmo afirmo para Efésios 4:11-12 que diz: “E ele mesmo concedeu uns para apóstolos, outros para profetas, outros para evangelistas e outros para pastores e mestres, com vistas ao aperfeiçoamento dos santos para o desempenho do seu serviço, para a edificação do corpo de Cristo.” A política do Reino de Deus não está estruturada sob uma hierarquia, mas sob o serviço totalmente igualitário.

d) Porque Paulo afirma essa igualdade
“Assim sendo, não pode haver judeu nem grego; nem escravo nem liberto; nem homem nem mulher; porque todos vocês são um em Cristo Jesus.” (Gálatas 3:28). Todos agora são filhos e filhas de Deus sem qualquer preconceito ou distinção.

Claro que igualdade não significa ser igual. Não se trata de identidade, mas complementaridade. Homem é homem e mulher é mulher. Ambos se complementam e não são inferiores um ao outro. Portanto, reconhecemos nossas diferenças e nos complementamos. Essa complementaridade está em Gênesis 2, antes da Queda, mas não é o foco desse estudo no momento e que deixa claro que não deve haver machismo e nem feminismo. Assunto para outro momento “Pergunte ao Pastor”.

Mas, como harmonizar passagens nas quais Paulo fala de sujeição da mulher ao homem, sendo o homem o cabeça? Isso não impediria uma mulher de ser pastora e impedir que ela lidere sobre homens?

Vamos focar na primeira pergunta, que muitos usam como argumento para que a mulher não lidere a igreja constituída de homens.
A questão da sujeição é apresentada por Paulo na perspectiva da mutualidade. Ele diz: Sujeitem-se uns aos outros no temor de Cristo.” (Efésios 5:21). O marido como cabeça nesse modelo se sujeição mútua não exerce liderança por meio de autoritarismo ou inferiorizando da mulher, mas se lermos o texto atentamente, esse “ser o cabeça” é uma responsabilidade segundo o exemplo de Cristo. Responsabilidade de amor sacrificial (Efésios 5:25-26) e responsabilidade de cuidado zelando pela esposa como se estivesse cuidando do seu próprio corpo tal qual Cristo faz ao nutrir a igreja, seu Corpo (Efésios 5:28-31). É uma relação de serviço. Ser o cabeça é servir! A sujeição da mulher também é serviço (Efésios 5:24). Em um ambiente de sujeição mútua, as decisões são compartilhadas. Está mais que evidente que não se trata de controle e nem de autoritarismo porque em Cristo houve a restauração da perspectiva de Deus para o papel do homem e da mulher à luz da criação.

Mas, o que Paulo quer dizer com “permaneçam as mulheres em silêncio nas igrejas” e “não [...] tenha autoridade sobre o homem” (I Coríntios 14:34; I Timóteo 2:12). Relembre que Cristo deu dons a todo o corpo e o Espírito foi derramado sobre toda a humanidade, logo, não apenas a homens. Vamos ver um pouco mais detalhado ambos os textos?

a) I Coríntios 14:3-5; 26; 40
Paulo escreve sua carta à igreja de Corinto. Em I Coríntios 11:5 ele ordena às mulheres que oram e profetizam, a usarem o véu, o que tratava de uma questão cultural. PAULO NÃO PROIBE AS MULHERES QUE PROFETIZEM OU OREM PUBLICAMENTE. Logo, I Coríntios 14, como vemos nos versos 26 e 40 trata de uma orientação para que haja ordem no culto. As mulheres, de modo geral, não eram instruídas e falavam muito interrompendo os momentos de instrução nos cultos com perguntas distraindo a congregação e perturbando a ordem. Ele orienta que deixem para tirar suas dúvidas em casa e não durante o culto (v.35). A igreja de Corinto era muito conturbada, haja vista o tumulto na Santa Ceia (I Coríntios 11:17-34). Esse procedimento tumultuoso das mulheres constituía-se uma vergonha para elas. Nos cultos em Corinto, Paulo quer ordem porque Deus é Deus de ordem e paz (I Coríntios 14:33). Se a intenção de Paulo fosse a proibição às mulheres, não deveria haver uma orientação na mesma carta à postura das que profetizam e oram no culto (I Coríntios 11:5) nesse sentindo? Portanto, concluímos que o foco principal é a ordem por razões específicas já mencionadas. O texto precisa ser lido à luz da criação, da relação de Jesus com as mulheres e o derramamento do Espírito sobre a igreja. Não há nada na lei que proíba as mulheres de falarem e já temos compreendido que a sujeição entre a mulher e o homem é mútua em todos os aspectos. Jesus dava voz às mulheres.

b) I Timóteo 2:11-15
Mais uma vez o texto está abordando a adoração pública. Vale ressaltar que era proibido às mulheres estarem nos mesmos ambientes que os homens. As igrejas eram nas casas. A cultura greco-romana não aceitava que as mulheres fossem instruídas. Entretanto, Paulo sabia da importância e da necessidade da instrução às mulheres a respeito do Evangelho e das Escrituras, pois a pouca instrução as tornava presas fáceis de falsos mestres. O analfabetismo entre mulheres era elevadíssimo. Portanto, era uma grande inovação permitir que as mulheres participassem das reuniões em Éfeso. O preconceito com as mulheres era muito grande. Portanto, a atitude de Paulo para esse contexto é tanto de inclusão das mulheres quanto de proteção para a igreja. Por quê? I) De modo geral elas não eram instruídas nas Escrituras; II) Havia muito erro sendo disseminado nas igrejas de Éfeso (I Timóteo 1:3-7), o que as tornava presas fáceis para as heresias; III) Elas poderiam disseminar mais rapidamente as heresias (I Timóteo 5:13; II Timóteo 3:6). Para aquele contexto foi necessário a recomendação, isto é, aprender em silêncio pelas razões já mencionadas.
Agora, se quisermos ler essa passagem em sentido literal e aplicá-lo aos dias atuais, proibindo que as mulheres ensinem e sejam pastoras, então, por que não aplicar integralmente proibindo que as mulheres façam seus cabelos e se adornem? Por que não promover o constrangimento para com aquelas que não conseguem engravidar? Levando mais adiante a hermenêutica literal em I Timóteo, então, os homens precisariam sempre levantar as mãos para orar (I Timóteo 2:8; 15).
Quanto a Paulo mencionar Eva como enganada não é um acréscimo à instrução. Reforça apenas uma perspectiva cultural na qual ele mesmo estava inserido.

Quando lemos sua carta aos Romanos no capítulo 16, vemos Paulo destacando muitas mulheres importantes para a vida da igreja. Das 25 pessoas citadas por ele, 1/3 são mulheres. Havia mulheres tão fortes na liderança como Priscila, que seu nome é mencionado primeiro e de seu marido depois, o que é incomum para aquele tempo (Romanos 16:3). Febe era uma diaconisa da igreja (v.1). Ele saúda Trifena e Trifosa, as quais trabalham no Senhor. Júnias (v.7) era mulher e poderia ter sido uma apóstola, uma espécie de missionária.

Podemos concluir que mulheres podem ser ordenadas?

1. A mensagem do Evangelho é única
As mulheres não pregam nada que difere em conteúdo da mensagem pregada pelos homens. Aliás, relembrando o que já mencionamos, elas testemunharam da ressurreição em primeira mão e espalharam a notícia. A mulher samaritana testemunhou a respeito de Jesus e muitos creram. Qual é o teor da mensagem de Jesus? Tão somente o que elas anunciaram como testemunhas oculares, o mesmo que os apóstolos. A autoridade dos ministros de Deus é a própria mensagem. O foco é o conteúdo que é imutável. Por essa razão, elas podem e devem ser ministras do Evangelho. Hoje, as mulheres usufruem das mesmas oportunidades de instrução que os homens, algo que dentro do contexto de Éfeso não era possível. Infelizmente, atualmente muitos homens têm corrompido a mensagem, enquanto muitas mulheres tem sido fiéis a todo o desígnio de Deus. Talvez, se tivéssemos um Paulo no século XXI, em muitas igrejas ele diria: “Ordeno que os homens fiquem em silêncio”. As mulheres na liderança de nossas igrejas estão tão habilitadas quanto os homens e não se comparam em conhecimento e preparo das mulheres analfabetas e vítimas de preconceitos em Éfeso.  
2. A liderança no Reino de Deus é em equipe
Jesus deixou evidente que liderança no Reino é serviço. Portanto, a distinção de gênero é irrelevante. Liderança no Reino, segundo o modelo de Jesus, é coletividade. Jesus levantou 12. Uma mulher pode perfeitamente liderar com uma equipe. Nessa equipe, conforme vemos I Coríntios 11, 12, 13 e 14 precisa fluir os dons e não há distinção de gênero na distribuição dos mesmos pelo Espírito Santo.  Logo, as mulheres também podem ser ordenadas e liderarem em equipe como devem ou deveriam fazer os homens. A liderança masculina, que não é em equipe e autoritária, é antibíblica e fora dos padrões do Reino de Deus. A sujeição da liderança na igreja é mútua. Não há maiorais no Corpo de Cristo (incluindo homens e mulheres). Que maior seja o menor e servo de todos. O sacerdócio agora é universal de todos os crentes (I Pedro 2:9).

3. Humildade
Assim como o homem, a mulher deve ser humilde. Se o nosso modelo de liderança humilde é Cristo, estariam as mulheres desqualificadas?

Para concluir, menciono o que a Igreja Metodista Livre diz a respeito do tema:

Os metodistas livres reconhecem que Deus concede dons espirituais de serviço e liderança tanto a homens como a mulheres. Visto que homem e mulher são ambos criados à imagem de Deus, tal imagem é mais plenamente refletida quando ambos, mulheres e homens, trabalham em união em todos os níveis da Igreja. Portanto, todas as posições na Igreja são acessíveis a todos que Deus chamar.

Rodrigo Rodrigues Lima