domingo, 21 de março de 2021

VOCÊ É AQUILO QUE AMA - Como mudar as intenções do coração em termos práticos?

 

VOCÊ É AQUILO QUE AMA

Como mudar as intenções do coração em termos práticos?

Após a mensagem deste domingo, fiquei pensando sobre a dificuldade que muitos de nós temos em dar o primeiro passo em direção a uma mudança concreta com resultados efetivos.

Algumas pessoas compartilharam comigo a respeito dessa dificuldade. “Pastor, eu sei que preciso romper com o desânimo e orar mais, mas não consigo.” Você pode completar com a sua necessidade a seguinte frase: “Pastor, eu sei que preciso ....., mas não consigo”. Outros podem dizer: “Basta depender do Espírito Santo”. É claro que não existem mudanças concretas com resultados efetivos em aspectos espirituais sem a dependência do Espírito Santo. Entretanto, quais são os fatores essenciais orientados pelo próprio Espírito Santo que contribuirão para você alcançar mudanças internas e profundas em sua vida? Aqui estão:

1. Imitação

Alguns podem dizer: “Imitação? Como assim?”. Sim! Imitação. Como é que nós aprendemos a falar nosso idioma? Como é que nós aprendemos a falar novos idiomas? Como nós aprendemos novas habilidades? São imitações constantes e regulares que modelarão nossos hábitos. Eu decorei os aparelhos da academia e fiquei mais confiante na medida em que observava o uso deles por outros companheiros. Eu os imitava. Por incrível que pareça, o VALOR de fazer exercícios internalizou e agora são mais do que exercícios. Ganhei o valor que rege as minhas intenções. Eu quero! Eu desejo treinar.

Mas, será que o princípio se aplica para a vida espiritual? Vamos lá:

O apóstolo Paulo escreveu aos coríntios: “Sejam meus imitadores, como também eu sou imitador de Cristo”. I Coríntios 11:1. Aconselhando a Timóteo, ele escreveu: “Ninguém o despreze por você ser jovem; pelo contrário, seja um exemplo (padrão) para os fiéis...” I Timóteo 4:12, em outras palavras, “que as pessoas possam ter você como referência e imitá-lo, Timóteo”. Atenção! A questão aqui não se trata de meramente imitar o outro, mas imitar a Cristo que é refletido no caráter do outro, em suas ações e escolhas. Nós precisamos estar perto de pessoas que sejam referências de Jesus, especialmente naquilo que precisamos crescer.

Uma das intercessoras de nossa igreja, a irmã Doralice, certa vez me contou que queria aprender a orar. Então, ela passou a ouvir as orações das pessoas e a imitar o que elas oravam. O resultado é que em 50 anos de vida cristã, ela é uma grande intercessora porque ganhou o valor após imitar, isto é, ter referências boas daquilo que ela desejava se tornar. Peça a Deus que Ele te dê referências e comece a imitar e a internalizar. Você experimentará profundas mudanças. Aqui é o nascedouro da mudança dos hábitos.

2. Comunidade de aliança ou grupos de mentoria/discipulado

Desde que o mundo é mundo, como seres humanos, nós nos identificamos com um determinado grupo de pessoas que pensam como nós ou, que pelo menos, gostem ou procurem os mesmos interesses que os nossos. Também é sabido que, se eu desejar me tornar mais experiente em determinada habilidade, esporte ou ideia, precisarei me juntar a pessoas que tenham a habilidade, praticam o esporte ou vivem intensamente essa ideia que desejo ter. Assim, a mudança ocorrerá de maneira prazerosa e satisfatória porque receberemos apoio e encorajamento desse grupo de interesse comum. Lucas escreveu: “Todos os que criam estavam juntos e tinham tudo em comum.” Atos 2:44. O texto não fala apenas de unidade, mas dos efeitos da unidade. As pessoas experimentavam uma mudança interna profunda que modelava seus hábitos e valores.

Assim Jesus fez discípulos! Assim Deus planejou que nos tornássemos igreja (ajuntamento). É assim que Deus modela o seu povo. Precisamos uns dos outros.

Por isso, o discipulado (um pequeno grupo) é o melhor ambiente para experimentarmos de forma concreta uma internalização dos valores que desejamos que se tornem nossos. James Smith, um teólogo e filósofo americo-canadense escreve sobre o assunto e diz: “...mudanças de hábito são empreitadas conjuntas, exatamente porque práticas verdadeiramente (re)formadoras são comunitárias. Nos encorajarmos mutuamente, sermos parceiros em novos ritmos e prestar contas um ao outro.” Em sua experiência de reabituação alimentar, ele escreveu: “Íamos nos comprometer em conjunto com novos rituais de alimentação e exercício, seríamos parceiros na hora de cozinhar e limpar, e até suportaríamos juntos as longas noites com a barriga roncando e o desejo de comer guloseimas. Nunca é demais enfatizar esse aspecto comunitário da reabituação.”.

Quer experimentar mudanças profundas? Entre em um grupo de discipulado ou mentoria, seja vulnerável e receba apoio e encorajamento.

 

No amor de Cristo,

Rodrigo Rodrigues Lima

SÉRIE - PONHA ORDEM NO SEU MUNDO INTERIOR | 21.03.2021 - VOCÊ É AQUILO Q...

VOCÊ É AQUILO QUE AMA - Lucas 15:11-32


VOCÊ É AQUILO QUE AMA

Lucas 15:11-32 

No dia 30 de janeiro de 1914, na espessa neblina da costa de um estado americano, o navio mercante Nantucket chocou-se contra o navio a vapor Monroe, que acabou naufragando. Quarenta e um marinheiros perderam a vida nas águas geladas do inverno no Atlântico. O capitão do navio a vapor Monroe foi interrogado por mais de cinco horas. Durante o interrogatório, averiguou-se, que o capitão Johnson “navegou o Monroe com uma bússola que possuía um desvio de até dois graus em relação a uma bússola padrão. Ele disse que o instrumento era suficientemente preciso para conduzir o navio e que já era costumeiro que os comandantes de navios mercantes utilizassem bússolas assim. Sua bússola nunca havia sido ajustada durante o ano em que comandara o Monroe”. A bússola defeituosa que parecia adequada à navegação acabou provando o contrário[1].

Comparando o nosso coração com uma bússola, a reflexão que convido você fazer é sobre calibragem do seu coração. Perceba que a tragédia acima aconteceu porque a bússola possuía um desvio de até dois graus, o que contribuiu para cálculos errados que levou a um acidente em meio a uma neblina.

Uma bússola bem calibrada poderá claramente orientar os quatro pontos cardeais. Norte, sul, leste e oeste.

O coração como uma bússola, é um guia para a nossa vida e ele precisa estar corretamente calibrado para apontar em direção àquilo que nos manterá na rota em segurança e esse ponto cardeal crucial que mantém a nossa vida na direção certa é Deus. Ele é o norte da nossa vida. Uma vida na rota certa é aquela cuja bússola do coração está calibrada com o seu Norte em direção a Deus. Do contrário, diante das neblinas da vida poderemos colidir e provocar estragos por todo lado.

Você é aquilo que ama, ou em outras palavras, você vive de acordo com a calibragem da bússola do seu coração. Se ela estiver apontada para fora de Deus, ainda que você acredite estar indo em direção a Deus, como aquele capitão acreditava estar na rota, você na verdade pode estar indo em direção oposta ou desviada Dele. Você é aquilo que ama, isto é, para onde estão apontados os seus maiores desejos e anseios. Quero pensar com você como é possível perder a calibragem amando aquilo que não seja Deus e como recalibrar a bússola do nosso coração em direção a Deus.

Quero olhar com você para a parábola do filho pródigo e de seu irmão mais velho com uma abordagem diferente, sem ferir a ideia central. Ambos tinham a bússola descalibrada. Ambos deveriam estar apontando para o amor ao pai, mas nenhum deles estava devidamente calibrado. Eles eram aquilo que amavam.

 1. Características do filho que partiu que revelam uma bússola descalibrada: 

a) Deseja mais as posses do pai do que o próprio pai (v.12)

O filho se apega ao que é externo. O valor está no que tem e não em quem ele é. Ele era filho de um homem muito rico, mas o mais importante era o que o pai possuía. Ele amava o dinheiro de seu pai. Ele desejou mais a benção do que o abençoador. Esse é um sinal de coração descalibrado. Isso evidencia o que é mais desejado e amado. Quem ama o dinheiro se torna ganancioso. Ele é conforme a imagem do seu deus.

 b) Distanciamento do Pai (v.13)

O texto diz que o Filho pródigo partiu para uma terra distante. O coração do filho não estava com o seu pai. Ele foi para outro lugar bem longe. Uma pessoa distante é alguém que diz que não quer ser orientada. Ela se basta. Ela não precisa que ninguém que oriente. Também pode ser aquela pessoa que, de tão envolvida com seus afazeres, está distanciada de um relacionamento intenso e relevante com o Pai. Isso me remete a Pedro quando Jesus estava sendo maltratado e julgado injustamente. Pedro o seguia de longe até o pátio do sumo sacerdote. E, tendo entrado, assentou-se entre os servos, para ver como aquilo ia terminar.” Mateus 26:58. É muito comum sentirmos que estamos perto por causa das experiências passadas, mas no presente o que realmente estamos é muito longe. Uma palavra define isso na vida de muitos crentes – SAUDADE. Recalibrar o coração é reconectar e romper com a saudade. Você não deve acompanhar de longe. Não seja expectador. Deus o convida para entrar na história com Ele.

 c) Desperdício e desequilíbrio com aquilo que o Pai lhe deu. Consumo desenfreado (v.13-14)

Cego por suas necessidades desequilibradas, por seu egoísmo e distanciamento, o filho pródigo não discerne o que realmente tem valor. Ele desperdiça. Ele precisa se afirmar por meio de um consumo desenfreado. Deus nos deu dons, talentos e recursos. Observe como o filho pródigo usou indevidamente o que pai lhe havia dado. Agiu por seus impulsos segundo os seus desejos. Ele foi um consumidor voraz. Talvez essa seja uma das maiores evidências de descalibro do século XXI na relação dos cristãos. Quando somos apenas movidos pelos nossos impulsos e nos desorganizamos ou usamos indevidamente tudo o que Deus tem dado a nós. O dom se torna motivo de vaidade. O amor é substituído por lascívia. Eugene Peterson, em sua versão da Bíblia A Mensagem parafraseia Gálatas 5:19 da seguinte forma: “Todos conhecem o tipo de vida de uma pessoa que quer fazer o que bem entende: sexo barato e frequente, mas sem nenhum amor; vida emocional e mental detonada; busca frenética por felicidade, sem satisfação; deuses que não passam de peças decorativas; religião de espetáculo; solidão paranoica; competição selvagem; consumismo insaciável; temperamento descontrolado; incapacidade de amar e de ser amado; lares e vidas divididos; coração egoísta e insatisfação constante; costume de desprezar o próximo, vendo todos como rivais; vícios incontroláveis; tristes paródias de vida em comunidade. E, se eu fosse continuar, a lista seria enorme.”

 d) Carências por estar longe do Pai. Necessidades financeiras, afetivas e físicas (v. 14; 17)

O filho pródigo começa a passar por necessidades. Esse é o sinal mais concreto para aqueles que estão experimentando algum tipo de descalibro. Eis aqui o resultado de amar aquilo que não é Deus, o Pai de nosso Senhor Jesus Cristo. Uma vida guiada por valores invertidos, distanciamento, desperdício e desequilíbrio em um consumo desenfreado, inevitavelmente sofrerá crises financeiras, afetivas e físicas. O filho prodigo se tornou conforme à imagem do deus que cultuou.

 2. Características do filho que ficou que revelam uma bússola descalibrada:

 

a) Ativista. Seu valor está no trabalho (v.25; 29)

O filho que ficou é aquele que busca seu valor naquilo que faz. Para ele só faz sentido ser amado se houver reconhecimento do seu trabalho. Quando o coração descalibra desta forma, algo terrível acontece. Se você serve a Deus por dinheiro, significa que se satanás fizer uma oferta maior você poderá segui-lo. Obviamente que nós diríamos: “Você está louco. Jamais faria isso.” Mas, quantos trocaram seus dons, seus talentos, renunciaram ao seu chamado porque outras coisas passaram a ter mais valor para elas do que a agenda de Deus. Eram ativistas que buscaram atividades para si. Sonde o seu coração.

     b) Justiça própria (v.29-30)

JUSTIÇA PRÓPRIA: É O SUTIL ENGANO QUE DERRUBA OS BONS! É ela que derruba os bons, é a justiça própria que derruba os valentes! Os melhores homens e mulheres que Deus poderia usar, tropeçam e caem neste sutil engano, de olhar as coisas pela ótica da sua Justiça. O perigo dos fiéis está aqui: “Serem convencidos, que por causa da sua conduta santa, zelosa e esforçada, eles não podem sofrer nesta terra”.  O PERIGO PARA OS FIÉIS ESTÁ AÍ: SEREM CONVENCIDOS DE QUE, POR CAUSA DA SUA CONDUTA SANTA, NÃO DEVEM SOFRER NESSA TERRA. Essa expectativa, além de não ser respaldada pela verdade, torna-se um embaraço que pode tirar da carreira os melhores de Deus. Normalmente pessoas assim não sucumbem ao adultério, à desonestidade, nem a ganância, porque o temor a Deus respalda diante dessas tentações. Esse filho era correto! Entretanto, é  derrubado ao ver seu irmão vencer, ser acolhido. A JUSTIÇA PRÓPRIA DERRUBA QUANDO o justo está sofrendo e o ímpio vencendo. É nessa armadilha que cai os mais fiéis: ao questionar a “Justiça de Deus” a Sua aparente possibilidade diante da Injustiça da vida humana. Há inúmeros versículos que denunciam a justiça própria, como Jó. Em algumas situações, ele não mediu palavras ao dizer que era justo e portanto, Deus injusto, por tirar os seus direitos. Observe o que dizem esses versos: “Porque Jó disse: Sou justo, e Deus tirou o meu direito. Apesar do meu direito, sou tido por mentiroso; a minha ferida é incurável, sem que haja pecado em mim. Pois (Jó) disse: De nada aproveita o homem ou comprazer-se em Deus”. (Jó  34:5,6,9). O que ele mais ama? A si próprio e sua própria justiça. Ele é aquilo que ama.

Como o coração recalibra? Como realinhamos nosso amor? BENDITA CRISE!

 

a)    O filho pródigo começou a passar necessidade (v.14) enquanto seu irmão ficou indignado com o acolhimento (v.28)

O filho pródigo passou necessidade. Quero fazer uso de uma expressão do David para abençoar você: “Bendita necessidade. Bendita crise.” Ninguém muda de forma significativa sem entrar em crise. A crise fornece a motivação para analisar de forma série o nosso modo de pensar e rever nossos conceitos e valores. A crise revela os ídolos que estão ocultos no cantinho do altar do nosso coração. A crise é a oportunidade para a bússola ser recalibrada. A crise é a oportunidade para o nosso amor se realinhar com seu verdadeiro romance e você ter uma vida íntegra com Deus. Essa pandemia tem revelado os amores do nosso coração. O irmão mais velho se indignou. A justiça própria foi a oportunidade para ele se aproximar do Pai e descobrir o que havia de errado em seu coração revelando o que ele amava.

Essa pandemia tem revelado ambos em muitos de nossos corações. Bendita crise!

 

b)   O pai se alegra e passa a ser o centro da história (v.23)

Bendita crise! O Pai está de braços abertos para acolher ambos os filhos. A bússola de ambos os filhos agora pode voltar a apontar para a direção certa. Eles podem voltar a amar o Pai e se tornarem verdadeiramente filhos. Você é aquilo que AMA! Ame ao Pai e você se tornará como o Pai! Ame ao Pai e você será filho. Ame ao Pai e você estará seguro. Não faltará nada para você. Quem tem o Pai tem tudo. Tudo o que é do Pai é nosso. Ame ao Pai. Está em crise? Bendita crise! O pai quer acolher você e festejar, recalibrando o seu coração em direção a Ele.

No amor de Cristo,

Rodrigo Rodrigues Lima



[1] Smith, James. Você é aquilo que ama (pp. 37-38). Vida Nova. Edição do Kindle.