VOCÊ
É AQUILO QUE AMA
Lucas
15:11-32
No dia 30
de janeiro de 1914, na espessa neblina da costa de um estado americano, o navio
mercante Nantucket chocou-se contra o navio a vapor Monroe, que acabou
naufragando. Quarenta e um marinheiros perderam a vida nas águas geladas do
inverno no Atlântico. O capitão do navio a vapor Monroe foi interrogado por
mais de cinco horas. Durante o interrogatório, averiguou-se, que o capitão
Johnson “navegou o Monroe com uma bússola que possuía um desvio de até dois
graus em relação a uma bússola padrão. Ele disse que o instrumento era
suficientemente preciso para conduzir o navio e que já era costumeiro que os
comandantes de navios mercantes utilizassem bússolas assim. Sua bússola nunca
havia sido ajustada durante o ano em que comandara o Monroe”. A bússola
defeituosa que parecia adequada à navegação acabou provando o contrário.
Comparando
o nosso coração com uma bússola, a reflexão que convido você fazer é sobre
calibragem do seu coração. Perceba que a tragédia acima aconteceu porque a
bússola possuía um desvio de até dois graus, o que contribuiu para cálculos
errados que levou a um acidente em meio a uma neblina.
Uma
bússola bem calibrada poderá claramente orientar os quatro pontos cardeais.
Norte, sul, leste e oeste.
O coração
como uma bússola, é um guia para a nossa vida e ele precisa estar corretamente
calibrado para apontar em direção àquilo que nos manterá na rota em segurança e
esse ponto cardeal crucial que mantém a nossa vida na direção certa é Deus. Ele
é o norte da nossa vida. Uma vida na rota certa é aquela cuja bússola do
coração está calibrada com o seu Norte em direção a Deus. Do contrário, diante
das neblinas da vida poderemos colidir e provocar estragos por todo lado.
Você é
aquilo que ama, ou em outras palavras, você vive de acordo com a calibragem da
bússola do seu coração. Se ela estiver apontada para fora de Deus, ainda que
você acredite estar indo em direção a Deus, como aquele capitão acreditava
estar na rota, você na verdade pode estar indo em direção oposta ou desviada
Dele. Você é aquilo que ama, isto é, para onde estão apontados os seus maiores
desejos e anseios. Quero pensar com você como é possível perder a calibragem
amando aquilo que não seja Deus e como recalibrar a bússola do nosso coração em
direção a Deus.
Quero
olhar com você para a parábola do filho pródigo e de seu irmão mais velho com
uma abordagem diferente, sem ferir a ideia central. Ambos tinham a bússola
descalibrada. Ambos deveriam estar apontando para o amor ao pai, mas nenhum
deles estava devidamente calibrado. Eles eram aquilo que amavam.
1. Características do filho que partiu que revelam uma
bússola descalibrada:
a) Deseja mais as posses do pai do que o próprio pai (v.12)
O filho se apega ao que é externo. O valor está
no que tem e não em quem ele é. Ele era filho de um homem muito rico, mas o
mais importante era o que o pai possuía. Ele amava o dinheiro de seu pai. Ele
desejou mais a benção do que o abençoador. Esse é um sinal de coração
descalibrado. Isso evidencia o que é mais desejado e amado. Quem ama o dinheiro
se torna ganancioso. Ele é conforme a imagem do seu deus.
b) Distanciamento do Pai (v.13)
O texto diz que o Filho pródigo partiu para uma
terra distante. O coração do filho não estava com o seu pai. Ele foi para outro
lugar bem longe. Uma pessoa distante é alguém que diz que não quer ser
orientada. Ela se basta. Ela não precisa que ninguém que oriente. Também pode
ser aquela pessoa que, de tão envolvida com seus afazeres, está distanciada de
um relacionamento intenso e relevante com o Pai. Isso me remete a Pedro quando
Jesus estava sendo maltratado e julgado injustamente. “Pedro o seguia de longe até o pátio do
sumo sacerdote. E, tendo entrado, assentou-se entre os servos, para ver como
aquilo ia terminar.”
Mateus 26:58. É muito comum sentirmos que estamos perto por causa das
experiências passadas, mas no presente o que realmente estamos é muito longe.
Uma palavra define isso na vida de muitos crentes – SAUDADE. Recalibrar o
coração é reconectar e romper com a saudade. Você não deve acompanhar de longe.
Não seja expectador. Deus o convida para entrar na história com Ele.
c) Desperdício e desequilíbrio com aquilo que o Pai lhe deu.
Consumo desenfreado (v.13-14)
Cego por suas
necessidades desequilibradas, por seu egoísmo e distanciamento, o filho pródigo
não discerne o que realmente tem valor. Ele desperdiça. Ele precisa se afirmar por
meio de um consumo desenfreado. Deus nos deu dons, talentos e recursos. Observe
como o filho pródigo usou indevidamente o que pai lhe havia dado. Agiu por seus
impulsos segundo os seus desejos. Ele foi um consumidor voraz. Talvez essa seja
uma das maiores evidências de descalibro do século XXI na relação dos cristãos.
Quando somos apenas movidos pelos nossos impulsos e nos desorganizamos ou
usamos indevidamente tudo o que Deus tem dado a nós. O dom se torna motivo de
vaidade. O amor é substituído por lascívia. Eugene Peterson, em sua versão da
Bíblia A Mensagem parafraseia Gálatas 5:19 da seguinte forma: “Todos
conhecem o tipo de vida de uma pessoa que quer fazer o que bem entende: sexo
barato e frequente, mas sem nenhum amor; vida emocional e mental detonada;
busca frenética por felicidade, sem satisfação; deuses que não passam de peças decorativas;
religião de espetáculo; solidão paranoica; competição selvagem; consumismo
insaciável; temperamento descontrolado; incapacidade de amar e de ser amado;
lares e vidas divididos; coração egoísta e insatisfação constante; costume de
desprezar o próximo, vendo todos como rivais; vícios incontroláveis; tristes
paródias de vida em comunidade. E, se eu fosse continuar, a lista seria enorme.”
d) Carências por estar longe do Pai. Necessidades financeiras,
afetivas e físicas (v. 14; 17)
O filho pródigo começa a passar por
necessidades. Esse é o sinal mais concreto para aqueles que estão
experimentando algum tipo de descalibro. Eis aqui o resultado de amar aquilo
que não é Deus, o Pai de nosso Senhor Jesus Cristo. Uma vida guiada por valores
invertidos, distanciamento, desperdício e desequilíbrio em um consumo
desenfreado, inevitavelmente sofrerá crises financeiras, afetivas e físicas. O
filho prodigo se tornou conforme à imagem do deus que cultuou.
2. Características do filho que ficou que revelam uma
bússola descalibrada:
a) Ativista. Seu valor está no trabalho (v.25; 29)
O filho que ficou é aquele que busca seu valor
naquilo que faz. Para ele só faz sentido ser amado se houver reconhecimento do
seu trabalho. Quando o coração descalibra desta forma, algo terrível acontece.
Se você serve a Deus por dinheiro, significa que se satanás fizer uma oferta
maior você poderá segui-lo. Obviamente que nós diríamos: “Você está louco.
Jamais faria isso.” Mas, quantos trocaram seus dons, seus talentos, renunciaram
ao seu chamado porque outras coisas passaram a ter mais valor para elas do que a
agenda de Deus. Eram ativistas que buscaram atividades para si. Sonde o seu
coração.
b) Justiça própria (v.29-30)
JUSTIÇA PRÓPRIA: É O
SUTIL ENGANO QUE DERRUBA OS BONS! É ela que derruba os bons, é a justiça própria
que derruba os valentes! Os melhores homens e mulheres que Deus poderia usar,
tropeçam e caem neste sutil engano, de olhar as coisas pela ótica da sua
Justiça. O perigo dos fiéis está aqui: “Serem convencidos, que por causa da sua
conduta santa, zelosa e esforçada, eles não podem sofrer nesta terra”. O PERIGO PARA OS FIÉIS ESTÁ AÍ: SEREM
CONVENCIDOS DE QUE, POR CAUSA DA SUA CONDUTA SANTA, NÃO DEVEM SOFRER NESSA
TERRA. Essa expectativa, além de não ser respaldada pela verdade, torna-se
um embaraço que pode tirar da carreira os melhores de Deus. Normalmente
pessoas assim não sucumbem ao adultério, à desonestidade, nem a ganância,
porque o temor a Deus respalda diante dessas tentações. Esse filho era correto!
Entretanto, é derrubado ao ver seu irmão vencer, ser
acolhido. A JUSTIÇA PRÓPRIA DERRUBA QUANDO o justo está sofrendo e o ímpio
vencendo. É nessa armadilha que cai os mais fiéis: ao questionar a
“Justiça de Deus” a Sua aparente possibilidade diante da Injustiça da vida
humana. Há inúmeros versículos que denunciam a justiça própria, como Jó. Em
algumas situações, ele não mediu palavras ao dizer que era justo e portanto, Deus
injusto, por tirar os seus direitos. Observe o que dizem esses versos: “Porque
Jó disse: Sou justo, e Deus tirou o meu direito. Apesar do meu direito, sou
tido por mentiroso; a minha ferida é incurável, sem que haja pecado em mim.
Pois (Jó) disse: De nada aproveita o homem ou comprazer-se em Deus”. (Jó 34:5,6,9). O que ele mais ama? A si próprio e sua
própria justiça. Ele é aquilo que ama.
Como o coração recalibra? Como realinhamos nosso amor? BENDITA CRISE!
a)
O filho pródigo começou a passar necessidade (v.14) enquanto seu irmão ficou
indignado com o acolhimento (v.28)
O filho pródigo passou
necessidade. Quero fazer uso de uma
expressão do David para abençoar você: “Bendita necessidade. Bendita crise.”
Ninguém muda de forma significativa sem entrar em crise. A crise fornece a
motivação para analisar de forma série o nosso modo de pensar e rever nossos
conceitos e valores. A crise revela os ídolos que estão ocultos no cantinho do
altar do nosso coração. A crise é a oportunidade para a bússola ser
recalibrada. A crise é a oportunidade para o nosso amor se realinhar com seu
verdadeiro romance e você ter uma vida íntegra com Deus. Essa pandemia tem
revelado os amores do nosso coração. O irmão mais velho se indignou. A justiça
própria foi a oportunidade para ele se aproximar do Pai e descobrir o que havia
de errado em seu coração revelando o que ele amava.
Essa pandemia tem
revelado ambos em muitos de nossos corações. Bendita crise!
b)
O pai se alegra e passa a ser o centro da história (v.23)
Bendita crise! O Pai está de braços abertos
para acolher ambos os filhos. A bússola de ambos os filhos agora pode voltar a
apontar para a direção certa. Eles podem voltar a amar o Pai e se tornarem
verdadeiramente filhos. Você é aquilo que AMA! Ame ao Pai e você se tornará
como o Pai! Ame ao Pai e você será filho. Ame ao Pai e você estará seguro. Não
faltará nada para você. Quem tem o Pai tem tudo. Tudo o que é do Pai é nosso.
Ame ao Pai. Está em crise? Bendita crise! O pai quer acolher você e festejar, recalibrando
o seu coração em direção a Ele.
No amor de Cristo,
Rodrigo Rodrigues Lima
Smith,
James. Você é aquilo que ama (pp. 37-38). Vida Nova. Edição do Kindle.