Quando
se pensa em relacionamento com Deus, logo me vem à mente a palavra santidade.
Entendemos santidade como um
conjunto de regras e atitudes que nos levarão até Deus. Pensamentos em um
conjunto de “pode” e “não pode”. Pensamos em termos de comportamento
primeiramente. Entretanto, é muito mais do que isso. O comportamento é uma conseqüência
de algo muito mais profundo nesse processo de santificação ou de proximidade a
Deus.
Primeiramente, devemos assumir que
não temos nada de santo em nós mesmos por causa do pecado. Fomos concebidos em
pecado (Salmo 51:5). Deus é Santo! Santidade é algo inerente a Deus. Nele não há
maldade alguma. Então, quem no mundo está no mesmo nível da santidade de Deus? Ora,
se eu não sou santo, mas Deus é santo e a Bíblia diz que sem santidade ninguém
verá o Senhor. (Hebreus 12:14) Como serei santo se não adianta por meus
esforços agradar a Deus?
Bom, devemos entender que
santidade é mais uma questão de relacionamento com Deus do que de fazer coisas
certas para Deus. Quem se relaciona com Deus fazendo coisas para Ele não é
filho e não está gozando da presença Dele, mas está agindo como o irmão do
filho pródigo tentando agradar o Pai e se frustrando constantemente.
Santidade é uma conseqüência do
meu relacionamento com Deus. Se você andar com pessoas que só falam palavrão o
tempo todo, bem provável será que involuntariamente você falará ou pensará em
falar. Se você andar com pessoas que só falam de jiu-jitsu, inevitavelmente você
terá uma tendência a falar mais disso do que de qualquer outra coisa. Esse
princípio também se aplica ao seu relacionamento com Deus. Quem se relaciona
com Deus e vive na comunhão com Deus sofrerá influencias do caráter de Deus na
sua vida. Então, como respondemos à pergunta “como viver a santidade?” A
resposta é: vivendo com Deus, em um relacionamento de proximidade a Ele. À
medida que me aproximo de Deus e me relaciono com Deus somos transformados.
Queremos ir às águas mais
profundas. Essas águas profundas falam de Deus. É mergulhar em Deus, em um
oceano que para nós é desconhecido e que nos causa temor. Há coisas que não
conhecemos, mas ao mergulharmos Nele não seremos mais os mesmos. Por isso,
enfatizo mais uma vez que é necessário tirarmos as máscaras. Deus não se
relaciona com personagens ou performances. Ele sabe quem nós somos e não
adianta fingir. Fracassaremos todas as vezes que tentarmos ser quem não somos
diante de Deus, procurando ter controle da nossa vida com Deus. Por isso,
descobrimos que não adianta seguir regras e formas para nos relacionarmos com
Deus. Você não se relaciona com a sua mãe ou pai através de regras e normas. Você
é o que é e às vezes extrapola, fica irreverente. Tem muita gente que também se
relaciona com Deus de forma irreverente por ter perdido a noção de que Jesus é
também o leão da tribo de Judá, grande, imprevisível e cujo rugido assusta. Mas,
quais são as evidências desse relacionamento transformador com Deus?
A questão da obra prima
Kevin Mannoia ilustra bem isso no
seu livro Vida Magistral. É como uma obra de arte pintada numa tela. As pessoas
olham aquela obra, admiram e de tão maravilhadas que elas estão, dizem: “Quem
foi o pintor dessa obra?” O olhar das pessoas vai para além da tela e chega no
autor, pois, elas dizem “esta obra é magistral”, ou seja, esta obra é digna de
um mestre!
Em um time de futebol é a mesma
coisa. As pessoas sempre perguntam: “Quem é o técnico?” Se o time está ruim a
culpa quase sempre é do técnico, mas se o time está ótimo o conjunto é responsável.
Mas, ao longo dos anos percebemos que os técnicos fazem a diferença. Quem não
gostaria de ter um Tite ou um Muricy conduzindo a sua equipe?
Eis aí o segredo da vida de
santidade. Quando as pessoas olham para as nossas vidas, ações, decisões e
escolhas e logo dizem: “Esse cara é diferente”! “Quem está por trás da sua vida”?
Alguns dirão: Ele vai à igreja! Mas, você sabe a resposta que é o simples fato
de se relacionar mais com Deus. Quando a nossa vida está cheia de Deus, pois
estamos andando mais com Ele, a nossa vida reflete a obra prima de Deus! Somos
a obra Dele.
Então, como ter um relacionamento
com Deus, de maneira que a nossa vida seja um espelho que reflete a imagem de
Deus e sua Santidade e o mundo nota o Deus que há na sua vida?
O relacionamento transformador com
Deus acontece quando...
1.
Você está
onde Deus está (v. 1)
Deus vem ao encontro de Isaías
numa visão. É uma visão gloriosa. Deus revela sua glória em toda sua Santidade
a Isaías.
Quando eu era adolescente
acreditava que precisava estar enfurnado na igreja todo o tempo para ter
encontros com Deus. Minha avó dizia: “Por que não leva logo o colchão para a
igreja e mora lá?” É verdade que ir à igreja é importante para encontros com
Deus através da comunhão, mas essa não é toda a verdade dos encontros com Deus.
Eu ficava fascinado com aqueles
que logo falavam línguas estranhas, tinham experiências poderosas e eu queria
aquilo para mim. Eu as achava muito íntimas de Deus e muito espirituais. Lembro-me
das conversas com meus amigos dizendo: “Quero ver um anjo.” Outro logo me
alertava: “Quem vê anjos também vê demônios.” O que dizer daqueles que “caiam
no Espírito”. Uma vez eu caí sozinho sem que alguém pusesse as mãos na minha
cabeça porque queria passar a outros que eu tive também uma experiência única. Não
estou criticando nada disso, apenas citando exemplos de situações que para mim
parecia evidências de pessoas santas. Por que isso? Medimos o nosso
relacionamento com Deus a partir da experiência do outro. Isso é terrível,
frustrante e devastador para a nossa fé. De duas a uma, ou pensaremos que não
somos espirituais ou faremos o maior estardalhaço para fingir que estamos na
Presença de Deus.
Se não bastassem todas essas coisas,
outros ainda condicionam a presença de Deus a um cantor “x”, a um pregador “y”.
Bom, a pergunta é: “Onde Deus está?”
DEUS NÃO ESTÁ LIMITADO EM HOMENS E
AO DESEMPENHO DOS HOMENS. A distância entre mim e Deus pode ser imediatamente
quebrada quando o meu coração estiver de joelhos. É com ousadia e intrepidez,
pelo novo e vivo caminho, Jesus Cristo, que você e eu podemos estar onde Deus
está. (Hebreus 10:19-22)
O caminho do relacionamento transformador com
Deus é o coração de joelhos, a vida de oração pelo caminho que é Jesus.
A
oração não é uma fórmula ou um meio de manipular a Deus, mas um meio de nos
submetermos a Deus. Quanto mais eu me aproximar Dele em oração, maior
intimidade, mais o conhecerei e confiança e me submeterei a Ele e à Sua Vontade.
Jesus nos ensinou a orar nos chamando para o quarto (lugar de intimidade). Lá
no quarto, fechar a porta (privacidade e exclusividade) orarmos. O nosso Pai em
secreto nos verá e nós o veremos. Oração parece um assunto muito chato, mas se
não nos convencermos de que precisamos falar com o Pai, não teremos intimidade
com Ele. Relacionamento só existe se relacionando.
Oração
é um meio pelo qual vou me submeter ao Pai e ouvir as suas respostas, sim, não
e ou espere! Precisamos aprender a orar com Jesus: “Pai seja feita a Tua
vontade”! Precisamos aprender a orar com Paulo e a ouvir: “Minha graça te basta”.
Eis
o caminho de um relacionamento transformador com Deus. Deus vem a Isaías porque
podemos afirmar que Isaías ia sempre ao encontro Dele. Esse é o caminho das águas
mais profundas. Proximidade a Deus.
Quando
não temos intimidade com Deus vivemos de fantasias e expectativas quase sempre
frustradas. Esperamos algo mirabolante. Temos mania de nos imaginar como seremos
quando estivermos onde Deus está. Pare com isso! Aproxime-se de Deus com seu
coração de joelhos e Ele se revelará. Lembro-me de que uma vez fui visitar uma
cliente. Quando ela abriu a porta da casa dela ficou decepcionada. Pensou que
eu fosse um cara fortão e grandalhão por causa da minha voz grave ao telefone. Claro
que Deus não é assim, mas muitas vezes projetamos um Deus que não existe. O que
quero dizer é: Se você não se relaciona com Deus, todas as vezes que você abrir
a porta esperando vê-lo, se frustrará porque Ele não estará lá. Ninguém irá a águas
profundas se não mergulhar!
O
relacionamento transformador com Deus...
2.
Revela quem eu sou para mim mesmo (v.5)
Essa
verdade é um pouco mais complexa. Fico vendo como que pessoas com visões, revelações
e profecias são tratadas com certa distinção das demais como se elas fossem
mais santas do que outras. Concluímos que pessoas usadas por Deus são mais
santas do que outras. Então, se a mula de Balaão foi usada por Deus com visão
ela é santa, ou seja, ela tem o caráter de Deus? A Bíblia diz que Deus usa o ímpio
para abençoar o justo, logo, podemos concluir que o ímpio é santo, ou seja, ele
tem o caráter de Deus? Deus usa quem Ele quiser, da forma que quiser e na hora
que quiser, entretanto, o lance da santidade não está ligado diretamente a ser
ou não usado por Deus. O lance da santidade está ligado a ser ou não APROVADO
por Deus. Óbvio que pessoas que estão no caminho da santidade viverão as
prioridades de Deus e serão usadas por Ele. Claro que devemos ser usados por
Deus, mas é melhor ser um usado por Deus que tem APROVAÇÃO. Quantas pessoas
usadas que caíram em pecado, sabendo também que ninguém cai da noite para o
dia. Eu mesmo não entendia como poderia ser usado por Deus e ao mesmo tempo
estar cheio de culpa.
Certamente
muitas pessoas se consagram para serem usadas. Mas, será que devo me consagrar
só quando vou pregar ou cantar? Santidade é relacionamento. Veja que Pedro teve
a revelação de que Jesus era o Cristo e horas mais tarde Jesus repreende satanás
da vida de Pedro. Somos complicados!
Há
quem acredite que por essas coisas uns são mais santos do que outros, mas você
se lembra de que o exemplo de santidade não é o seu amigo ou vizinho, mas Deus?
Ele é o Santo!
Isaías,
quando viu a santidade de Deus falou: “Eu sou O cara!” Ou ele disse: “Sou o
MAIOR profeta de Israel!” Claro que não! Quando Isaías vê a santidade de Deus, é
como se ele estivesse pelado na frente de todo mundo e tivesse tomado de
vergonha e um encontro com ele mesmo e então disse: “Ai de mim”. Ele reconheceu
o juízo de Deus sobre o seu pecado. Aqui há uma grande verdade: Quanto mais próximo
de Deus, mais humildade no meu coração e mais servo porque vejo que não sou
melhor do que ninguém.
Você
quer se parecer com quem? Com o seu vizinho bondoso? Não é uma má idéia! Mas, não
vá às cópias, vá ao original! Não viva uma santidade pirateada, viva a
santidade do original, a santidade de Deus! Se veja a partir do seu
relacionamento com Deus. É de pai para filho! Eu olho para mim e olho para Deus
e vejo que não sou nada, mas percebo o quanto Deus é amoroso e gracioso. A
santidade de Deus revela todas as outras faces Dele. Você se lembra de Jesus e
Pedro envergonhado? Você se lembra que quando reconhecemos que não somos
capazes e estamos no fundo do poço há alguém que não nos ama por causa do nosso
desempenho, mas nos ama porque nos fez e, então se aproxima de nós? Quanto mais
nos cercamos da luz de Cristo, mais as trevas se dissipam da nossa vida. Quem
tem um encontro com Jesus é curado da sua auto-imagem! Saberá reconhecer suas
limitações e saberá lidar com suas fraquezas. Nosso EGO e VONTADES são
confrontados e crucificados. Então, mais que pronto para ser usado por Deus,
sou por ele aprovado. As pessoas passarão a ver Deus em mim. Quando
reconhecemos o nada que somos, nos abrimos para Deus ser tudo em nós. Basta ver
isso na vida de Isaías e de tantos outros como Moisés, Pedro etc...
O
relacionamento transformador com Deus acontece...
3.
Por causa do Seu toque purificador (v.7)
Glória
a Deus! Quando confessamos, quando gritamos “ai de mim” recebemos o toque de Deus.
O que estava oculto veio à tona e Jesus nos limpou com o Seu sangue. Deus não
deixa a sujeira debaixo do tapete. Ele percorre todos os cantos da nossa alma e
nos limpa.
O
Senhor quer nos tocar com seu toque purificador. Foi o que aconteceu com a
mulher adúltera. Jesus nos mostra o que somos e diante de tão grande graça e
amor somos transformados.
É
muito bom ter experiências com Deus. Eu tive muitas experiências, mas enquanto não
houvesse transformação seriam apenas experiências.
O
toque de Jesus transforma o caráter, transforma sim a conduta, mas é algo de
dentro para fora. Ele quer mudar o nosso íntimo e assim desceremos,
mergulharemos em águas mais profundas.
Porém,
veja que Isaías foi tocado por uma brasa. Se eu bem imagino o que seja uma
brasa, ela é quente e queima!
Já
vi em filmes que para evitar infecções quando alguém se fere, para purificar de
bactérias, ele pega a brasa e toca na ferida e assim a pessoa é salva. O toque
de Deus muitas vezes poderá doer. O Espírito Santo é o fogo que queima e nos
ajuda a viver essa vida de relacionamento. O fruto do Espírito está descrito em
Gálatas 5:22-24. As evidências de que você tem recebido o toque do Espírito é
quando você vive pelo Espírito numa vida tocada por essa brasa viva! Onde você
precisa desse toque em sua vida?
Vamos
descer às águas profundas? Receba o toque purificador de Deus. Estar na presença
de Deus nos transforma.
Rodrigo
Rodrigues Lima,
Pastor