Resolvendo conflitos e zelando pela
doutrina
Gálatas 2:11-14
Graça e paz amada igreja. Na semana passada
mergulhamos na história de Paulo e em seus argumentos para provar que seu
evangelho não foi aprendido com homem algum, mas por sua própria experiência,
foi recebido do próprio Deus. Em Gálatas 2:1-10 Paulo reforça que seu evangelho
é o mesmo pregado por Pedro. Ele dirá: “Pelo contrário, quando viram que me
havia sido confiado o evangelho da incircuncisão, assim como a Pedro foi
confiado o evangelho da circuncisão – pois aquele que operou eficazmente em
Pedro para o apostolado da circuncisão também operou eficazmente em mim para os
gentios.” (Gálatas 2:7-8). Paulo vem até agora provando tanto o seu
apostolado quanto a sua mensagem argumentando que não foram recebidos de homem
algum, nem mesmo dos apóstolos de Jerusalém. Ele prova que não existem dois
evangelhos. Temos um único evangelho, com duas abordagens diferentes, mas com o
mesmo conteúdo. Uma abordagem para judeus e outra abordagem para gentios de uma
mesma mensagem, o Evangelho da graça, de que Cristo morreu pelos nossos pecados
e somos justificados pela fé nos méritos de Jesus.
Porém, Pedro sabendo disso tudo, pisará na bola
feio e isso dará margem para que se tenha um dos registros mais tensos e
dramáticos do novo testamento. É uma passagem constrangedora e das mais
polêmicas. Como diria na linguagem atual “A treta foi grande. A coisa foi
feia.”
Vale destacar que a questão aqui não é uma disputa
de vaidades pessoais. Paulo não está tentando se promover e colocar Pedro em “xeque”.
Há uma questão muito mais grave aqui. A igreja está no seu começo e Pedro,
sabendo o que evangelho é a salvação somente pela fé, ele estava com sua
prática segregadora negando o evangelho. Veja que 1) Pedro tinha o hábito de
comer com os gentios (cristãos não judeus) Gálatas 2:12. Inicialmente ele
acolhe os gentios e come com eles. Pedro sabia que o evangelho estava aberto
aos gentios. Ele mesmo tem uma experiência com Deus nesse tema de alcançar
gentios. Vejamos Atos 10:9-16, 28. 2) Covardemente se afasta dos gentios por
causa de irmãos judeus (judaizantes) que chegam de Jerusalém em Antioquia.
Gálatas 2:12. Aparentemente Pedro o faz por vergonha. O mesmo Pedro que negou a
Cristo por medo de uma criada, agora nega a Cristo com medo dos crentes
judaizantes. Pedro se preocupa demais com o que os outros pensam a seu
respeito. Com essa atitude 3) Pedro dá um mal exemplo como líder.
Gálatas 2:13. Os demais judeus se fizeram hipócritas juntamente com ele. Um
líder nunca é neutro. Liderança é influência e o fará para o bem ou para o mal.
Hernandes Dias Lopes escreve algo muito profundo a respeito disso. Ele escreve:
“Precisamos estar atentos para o fato de que, se a vida do líder é a vida da
sua liderança, os pecados do líder são os mestres do pecado. Os pecados do
líder são mais graves, mais hipócritas e mais danosos do que o pecado das
demais pessoas. São mais graves porque o líder peca com maior conhecimento; são
mais hipócritas porque o líder condena o pecado dos outros, mas pratica os
mesmos pecados que condena; são mais danosos porque, quando o líder tropeça, mais
pessoas são influenciadas por seu fracasso.”
O que está me jogo aqui? O próprio Evangelho! Pedro
não está colocando perigo à sua reputação somente, mas a mensagem
de Jesus está comprometida. Nasce um conflito doutrinário que compromete a saúde da igreja
primitiva. A solução será crucial e queremos ver neste sermão no exemplo deles devemos solucionar
conflitos e zelar pela doutrina.
1.A fonte do conflito (v.11-13)
Igreja, detestamos conflitos. O conflito existe
porque rejeitamos ouvir a verdade. Nenhum de nós gosta de conflitos. Porém,
chegou um momento em que a atitude de Pedro se tornou contraditória com o que
ele pregava, como mencionei em Atos 10:28. Não é que Pedro parou de crer no
evangelho e nem em suas convicções. Ele continuava crendo e pregando, mas sua
conduta foi repreensível. Por quê? 1) Medo (v.12). Pedro não
tinha problema algum em comer com os irmãos no começo. O muro que Jesus havia derrubado
com o seu sangue não havendo mais distinção entre judeu e grego, estava
perigosamente sendo reerguido porque um dos principais líderes da igreja estava
se sentindo intimidado. Por medo, Pedro estava negociando a essência da graça. O
temor começa com o quê? Com as seguintes perguntas: “O que vão pensar de mim?
O que vão achar?” Então você começa a presumir e a se intimidar. Os conflitos acontecem hoje
pelo mesmo motivo! Temor de homens! Temor de perder posição, temor porque o
outro aparenta ser melhor do que você, temor. Nós sustentamos a verdade do
Evangelho ainda que isso contrarie pessoas. O medo foi a chave da queda de
Pedro. Cristãos intimidados são capazes de negociar o que acreditam porque
querem se parecer legais ou são covardes mesmo. Esses vivem na lei e não na graça! 2)
Hipocrisia (v.13) A palavra grega hipocrisia significa "atuar", “fazer fita”.
Era fingimento. Um hipócrita é alguém que age como um ator. O dissimulado não
deixa claro a sua posição em público, mas no particular tem outra postura. Isso causa
muito conflito na igreja. Na vida da igreja não pode haver esse tipo de coisa,
mas foi o que Pedro fez. Como dizia um amigo: “É melhor ficar vermelho na
hora, do que amarelo o resto da vida.” Seja verdadeiro. É melhor que você
seja transparente e diga o que sente e pensa do que sair da igreja por não ser
transparente e falar mal por trás. Muitas vezes o maior hipócrita é aquele que
sai da igreja sem abrir o coração, pois, não teve coragem de falar o que pensa
e acha melhor a fuga e falar mal por detrás. Não seja assim! Por isso, Paulo
não tolerou a hipocrisia de Pedro. A acusação de Paulo é séria e evidente. Pedro
e os outros agiram com falta de sinceridade e negaram pelo menos 5
doutrinas cristãs: a) A unidade da igreja (v.14); b)
A justificação pela fé (v.15, 16); c) A liberdade da lei (v.17,
18); d) O evangelho; e) A graça de Deus (v.21). Veja
comigo Atos 10:27-28; 34: “Deus não trata as pessoas com parcialidade.”
Pedro reconheceu que ao vir o Espírito Santo sobre Cornélio, um gentio, o evangelho não fazia acepção de pessoas, mas por
medo da opinião dos judeus, ele age hipocritamente em Antioquia. Então, Paulo chega junto e
diz: o que está relatado no verso 14. 3) Legalismo (v.14) A
questão central aqui foi o legalismo. Não adianta uma lista de pode ou não
pode! Opiniões sobre conduta e estilos tem sido grande motivo de conflito nas
igrejas. Não quero dizer que podemos viver a vida velha com a graça, pois o
evangelho muda a nossa vida. Entretanto, devemos crer que as pessoas mudarão
porque o Espírito Santo as guiará. A nossa exigência de que os outros nos
satisfaçam é muitas vezes a fonte de conflito. O legalismo com a esposa ou com
o marido, com os filhos e tudo o mais é o grande problema. Não faça a lei para
os outros baseados em suas preferências. Tire o legalismo fora! Caminhe com a
graça.
2.A solução do conflito
1) Confronto (v.11) Paulo não hesitou
em confrontar a Pedro. Ele reconhecia que Pedro era designado como apóstolo antes
dele (Gálatas 1:17). Ele sabia que Pedro era uma das colunas da igreja
(v.9), a quem Deus confiou o evangelho para os circuncisos (v.7). Paulo não
negou e não se esqueceu desses fatos, mas Pedro se tornou repreensível, ou
seja, estava totalmente errado. Paulo fez isso publicamente, porque o problema havia
se tornado público e a igreja corria o risco de um racha! A atitude de Pedro
estava em desacordo com a doutrina. Houve confronto. Nós pensamos que
confrontar é errado ou carnal, mas não! Carnal é agir para intimidar! No evangelho não existe judeu ou grego!
Cristo é tudo em todos (Colossenses 3:21). Paulo preservou a unidade da
igreja com essa atitude. Esse legalismo precisou ser confrontado! Confronte o
legalismo do seu irmão e rápido! O confronto é bom e cura a igreja. 2) Seja
pela verdade (v.15-16). Para solucionar conflitos devemos nos basear na
verdade da Palavra de Deus. Paulo agiu baseado na verdade do evangelho. O que
está em jogo aqui não é uma disputa pessoal de quem pode mais, mas o evangelho
e a unidade da igreja! Aqui é uma prova de que nenhum homem é infalível. Por
isso, não idolatre ninguém! Por que as pessoas vivem idolatrando homens? Porque
vivem na lei. Esse era Pedro naquele momento. Se aliançando com homens que
acreditavam que para agradar a Deus precisavam viver na Lei. Cuidado para não
idolatrar homens. Pare de valorizar demais o homem, o tal do “usado” ou o tal
do “ungido”, porque o favor de Deus está com quem não merece! Quem idolatra
homens tem uma postura de meritocracia sempre. Seja pela verdade! A graça é
sobre todos. 3) Reconciliação (Atos 15:9). Após todo esse
episódio ocorreu o concílio de Jerusalém em Atos 15. Paulo e Barnabé voltam o
equilíbrio. Veja comigo Atos 15:1-2; 6-11. O alvo do confronto sempre
será a reconciliação. Eles não foram carnais a ponto de justificar ou "espiritualizar" o erro. O carnal acha que ele é o centro
das questões e interpreta as situações em função de si mesmo. Pedro não age
assim. Aliás, depois Ele falará bem de Paulo em II Pedro 3:15-16. Pedro
reconheceu que Paulo era inspirado por Espírito Santo. Pedro só fez isso porque
era homem de Deus. Pessoas de Deus tem espírito ensinável e são transparentes.
Estão sempre prontas a ouvir e a reconhecer seus excessos. Jamais negue a
verdade que você crê, como Pedro fez. Não faça como Pedro que dissimula e faz de
conta, quando é de fato. Porém, se errar, faça como Pedro e volte atrás. Seja ministro da reconciliação. Perdoe e peça perdão!
No amor de Cristo,
Pastor Rodrigo Rodrigues Lima
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