MINISTÉRIO FEMININO NA IGREJA PODE?! ESTÁ
NA BÍBLIA?
O
ministério feminino na igreja pode sim e está na Bíblia.
Vamos
sistematizar a resposta a respeito deste tema tão importante. Existem algumas
posições distintas a respeito do tema.
Existem
pessoas que fazem uma leitura literal da Bíblia, isto é, sem considerar o
contexto no qual foi escrita e entendem que a mulher não pode exercer qualquer
ministério na igreja local. Existem outros que reconhecem o ministério
feminino, mas não aceitam a ordenação feminina, portanto, não reconhecem
pastoras ordenadas. E aí? Pode ou não pode?
Não
fazer uma análise do contexto histórico cultural no qual as mulheres viviam é
ignorar uma realidade de opressão, ódio e desprezo a elas. A posição de uma
mulher era inferior aos homens em todos os aspectos. A sociedade israelita do
Antigo Testamento era extremamente patriarcal. Um ditado rabínico afirmava que
todo homem devia agradecer diariamente a Deus por não ter nascido mulher, nem
pagão e nem operário. Alguns rabinos chegaram ao extremo de considerar que a
mulher não possuía alma e que era preferível queimar a Lei do que ensiná-la a
uma mulher. Em livros apócrifos dizem: “o Testamento dos Patriarcas
dificilmente as vê (mulheres) como algo além de dar ensejo à fornicação.”
Esperar
que as mulheres tenham espaço para ordenação ao ministério nesse período de
tanta opressão e preconceito é impensável. Podemos perceber claramente que
desafiar o status quo (a situação atual) poderia causar muito mais perseguição
para a igreja. O mesmo se aplica à questão da escravidão e Paulo recomendava aos
escravos: “ – Escravos, obedeçam em tudo a seus senhores aqui na terra, não
servindo apenas quando estão sendo vigiados, visando somente agradar pessoas,
mas com sinceridade de coração, temendo ao Senhor.” (Colossenses 3:22).
Concluímos, por essa razão, que a Bíblia é a favor da escravidão? É óbvio que
não. Paulo diz expressamente: “Assim sendo, não pode haver judeu nem grego;
nem escravo nem liberto; nem homem nem mulher; porque todos vocês são um em
Cristo Jesus.” (Gálatas 3:28). É claro que Paulo está tratando da
salvação neste trecho, mas a salvação envolve a restauração da imagem de Deus,
o projeto original antes da queda do homem.
Olhando
para Jesus e sua relação com as mulheres, a sua obra redentora e o derramamento
do Espírito Santo, como devemos ver a mulher na nova aliança e como interpretar
passagens bíblicas em que Paulo ordena que elas permaneçam em silêncio? Deus
não faz distinção entre homem e mulher. Por isso, homem e mulher desfrutam
de igualdade diante de Deus e ambos podem exercer o ministério pastoral
ordenado. Por quê?
a) Porque a criação fundamenta isso.
“Assim
Deus criou o ser humano à sua imagem, à imagem de Deus o criou; homem
e mulher os criou. E Deus os abençoou e lhes disse: - Sejam fecundos,
multipliquem-se, encham a terra e sujeitem-na. Tenham
domínio sobre os peixes do mar, sobre as aves dos céus e sobre todo
animal que rasteja pela terra.” (Gênesis 1:27-28). Perceba que
desde a criação o homem e a mulher desfrutam da imagem divina e possuem o mesmo
domínio sobre a criação. Na criação, homens e mulheres possuem igualdade.
Quando
o domínio do homem veio sobre a mulher? Após a QUEDA! Veja o que Deus diz: “O
seu desejo será para o eu marido, e ele a governará.” (Gênesis 3:16b).
Podemos afirmar que isso foi uma consequência do pecado e não reflete o projeto
original antes da queda.
Tudo
o que Jesus fez deve modelar a vida dos seus discípulos e de sua igreja. Jesus
nasceu de uma mulher (Gálatas 4:4). Nos quatro evangelhos, as mulheres
participam do Reino promovido por Jesus, mas de uma forma ativa e engajada.
Jesus aparece curando e restaurando a dignidade de mulheres, transmitindo-lhes
ensinamentos acerca de relações familiares, étnicas, econômicas e sociais. Elas
são retiradas de um contexto de doença, opressão e exclusão e são inseridas
ativamente no seguimento, discipulado, ensino e prática de transformação.
Mulheres pobres, viúvas, divorciadas ou solitárias foram acolhidas por Jesus. I)
A Sogra de Pedro é curada e passa a servir a Jesus (Marcos 1:29-31). No
judaísmo, não era recomendado que mulheres servissem à mesa para não se
acostumarem entre os homens. O serviço dela mostra sua gratidão, mas também
revela que ela se tornará uma discípula de Jesus e viverá dentro de uma nova
comunidade não marcada pela hierarquia, mas pelo serviço mútuo revelando a
igualdade entre homens e mulheres no Reino, no qual o serviço é o ideal de
discipulado de Jesus. II) A mulher que sofria de hemorragia há 12 anos
(Marcos 5:25-34). Ela vivia à margem da sociedade, que no contexto
religioso, a considerava impura. Tudo o que ela tocasse também se tornaria
impuro. Jesus rompe diversas barreiras com aquela mulher. Ao ser tocado por ela
Jesus: a) Rompe com o mito da contaminação, pois ela é curada; b)
Jesus a faz falar em público. Mulheres não podiam falar em público até mesmo
com os seus maridos; c) Jesus restaura a dignidade dela como
mulher. Ela poderá ter filhos, pois não sofrerá mais dessa hemorragia; Ela
poderá viver em sociedade, pois, Jesus a cura de uma doença que marginalizava. III)
A mulher siro-fenícia (Marcos 7:24-30). Jesus atende ao pedido de uma
mulher não judia e cura a sua filha. As mulheres de outras nações eram tidas
como animais. IV) A mulher samaritana (João 4:1-42). Jesus fala com uma
mulher publicamente. Jesus se dirige a alguém que é de Samaria. Seus discípulos
ficam pasmos. Muitos crerão nele em Samaria por causa do testemunho dela. V)
A viúva pobre (Marcos 12:41-44). Essa mulher era marginalizada por duas
razões: a) Ela era viúva; b) Ela era pobre. Ela é
um exemplo de abnegação e exemplifica o modelo de discipulado que espera de
nós. Além de trazer destaque público a ela como exemplo de verdadeira
espiritualidade e adoração. VI) A mulher que unge Jesus em Betânia (Marcos
14:3-9). Essa mulher invade um espaço tipicamente masculino e serve a
Jesus. VII) A morte, o sepultamento, a ressurreição de Jesus e as mulheres
(Marcos 15:40-11; 16:1-11). Diferentemente de boa parte dos discípulos acovardados,
elas permanecerão aos pés de Jesus na crucificação, buscarão embalsamar o corpo
dele, o verão ressurreto primeiro e anunciarão em primeira mão a Sua
ressurreição.
Assim,
Jesus põe fim à maldição da queda, introduz as mulheres em seu Reino e traz a
elas a benção da igualdade tal qual na criação. Stott afirma que: “[...] a
igualdade sexual, estabelecida na criação, mas pervertida pela queda, foi
recuperada pela redenção, que está em Cristo. O que a redenção soluciona é a
queda, o que ela recupera e restabelece é a criação.” Portanto, Jesus restaura
a imagem de Deus e torna a todos participantes de sua graça.”
“E
acontecerá, depois disso, que derramarei o meu Espírito sobre toda a
humanidade. Os filhos e as filhas de vocês profetizarão,
os seus velhos sonharão, e os seus jovens terão visões. Até sobre os servos e
sobre as servas derramarei o meu Espírito naqueles dias.” (Joel 2:28-29)
O
texto é claro! O Espírito Santo não faz distinção de gêneros. Quando diz “toda
a humanidade” inclui mulheres e até escravas. Fala-se dos dons espirituais
como evidência, o que independente de gênero. “Felipe tinha quatro
filhas solteiras que profetizavam.” (Atos 21:9). As mulheres
profetizavam, e por uma questão situacional em Corinto, usavam o véu: “Toda
mulher, porém, que ora ou profetiza com a cabeça
descoberta desonra a sua própria cabeça.” (I Coríntios 11:5). Vale
ressaltar que na lista dos dons espirituais, não há qualquer distinção de
gênero na distribuição deles. “E há diversidade nas realizações, mas o mesmo
Deus é quem opera tudo em todos, A manifestação do Espírito é
concedida a cada um visando um fim proveitoso.” (I Coríntios 12:6-7)
e, o mesmo afirmo para Efésios 4:11-12 que diz: “E ele mesmo concedeu
uns para apóstolos, outros para profetas, outros para evangelistas e outros
para pastores e mestres, com vistas ao aperfeiçoamento dos santos para o desempenho
do seu serviço, para a edificação do corpo de Cristo.” A política
do Reino de Deus não está estruturada sob uma hierarquia, mas sob o serviço totalmente
igualitário.
“Assim
sendo, não pode haver judeu nem grego; nem escravo nem liberto; nem homem
nem mulher; porque todos vocês são um em Cristo Jesus.” (Gálatas 3:28).
Todos agora são filhos e filhas de Deus sem qualquer preconceito ou
distinção.
Claro
que igualdade não significa ser igual. Não se trata de identidade, mas
complementaridade. Homem é homem e mulher é mulher. Ambos se complementam e não
são inferiores um ao outro. Portanto, reconhecemos nossas diferenças e nos
complementamos. Essa complementaridade está em Gênesis 2, antes da Queda, mas
não é o foco desse estudo no momento e que deixa claro que não deve haver
machismo e nem feminismo. Assunto para outro momento “Pergunte ao Pastor”.
Mas,
como harmonizar passagens nas quais Paulo fala de sujeição da mulher ao homem,
sendo o homem o cabeça? Isso não impediria uma mulher de ser pastora e impedir
que ela lidere sobre homens?
Vamos
focar na primeira pergunta, que muitos usam como argumento para que a mulher
não lidere a igreja constituída de homens.
A
questão da sujeição é apresentada por Paulo na perspectiva da mutualidade. Ele
diz: “Sujeitem-se uns aos outros no temor de Cristo.” (Efésios
5:21). O marido como cabeça nesse modelo se sujeição mútua não
exerce liderança por meio de autoritarismo ou inferiorizando da mulher, mas se
lermos o texto atentamente, esse “ser o cabeça” é uma responsabilidade segundo
o exemplo de Cristo. Responsabilidade de amor sacrificial (Efésios
5:25-26) e responsabilidade de cuidado zelando pela esposa como se
estivesse cuidando do seu próprio corpo tal qual Cristo faz ao nutrir a igreja,
seu Corpo (Efésios 5:28-31). É uma relação de serviço. Ser o cabeça é
servir! A sujeição da mulher também é serviço (Efésios 5:24). Em um
ambiente de sujeição mútua, as decisões são compartilhadas. Está mais que
evidente que não se trata de controle e nem de autoritarismo porque em
Cristo houve a restauração da perspectiva de Deus para o papel do homem e da
mulher à luz da criação.
Mas,
o que Paulo quer dizer com “permaneçam as mulheres em silêncio nas igrejas”
e “não [...] tenha autoridade sobre o homem” (I Coríntios 14:34; I
Timóteo 2:12). Relembre que Cristo deu dons a todo o corpo e o Espírito foi
derramado sobre toda a humanidade, logo, não apenas a homens. Vamos ver um
pouco mais detalhado ambos os textos?
Paulo
escreve sua carta à igreja de Corinto. Em I Coríntios 11:5 ele ordena às
mulheres que oram e profetizam, a usarem o véu, o que tratava de uma questão
cultural. PAULO NÃO PROIBE AS MULHERES QUE PROFETIZEM OU OREM
PUBLICAMENTE. Logo, I Coríntios 14, como vemos nos versos 26 e 40
trata de uma orientação para que haja ordem no culto. As mulheres, de modo
geral, não eram instruídas e falavam muito interrompendo os momentos de
instrução nos cultos com perguntas distraindo a congregação e perturbando a
ordem. Ele orienta que deixem para tirar suas dúvidas em casa e não durante o
culto (v.35). A igreja de Corinto era muito conturbada, haja vista o
tumulto na Santa Ceia (I Coríntios 11:17-34). Esse procedimento tumultuoso
das mulheres constituía-se uma vergonha para elas. Nos cultos em Corinto, Paulo
quer ordem porque Deus é Deus de ordem e paz (I Coríntios 14:33). Se a
intenção de Paulo fosse a proibição às mulheres, não deveria haver uma
orientação na mesma carta à postura das que profetizam e oram no culto (I
Coríntios 11:5) nesse sentindo? Portanto, concluímos que o foco principal é
a ordem por razões específicas já mencionadas. O texto precisa ser lido à luz
da criação, da relação de Jesus com as mulheres e o derramamento do Espírito
sobre a igreja. Não há nada na lei que proíba as mulheres de falarem e já temos
compreendido que a sujeição entre a mulher e o homem é mútua em todos os
aspectos. Jesus dava voz às mulheres.
Mais
uma vez o texto está abordando a adoração pública. Vale ressaltar que era
proibido às mulheres estarem nos mesmos ambientes que os homens. As igrejas
eram nas casas. A cultura greco-romana não aceitava que as mulheres fossem
instruídas. Entretanto, Paulo sabia da importância e da necessidade da
instrução às mulheres a respeito do Evangelho e das Escrituras, pois a pouca
instrução as tornava presas fáceis de falsos mestres. O analfabetismo entre
mulheres era elevadíssimo. Portanto, era uma grande inovação permitir que as
mulheres participassem das reuniões em Éfeso. O preconceito com as mulheres
era muito grande. Portanto, a atitude de Paulo para esse contexto é tanto de
inclusão das mulheres quanto de proteção para a igreja. Por quê? I) De
modo geral elas não eram instruídas nas Escrituras; II) Havia muito erro
sendo disseminado nas igrejas de Éfeso (I Timóteo 1:3-7), o que as
tornava presas fáceis para as heresias; III) Elas poderiam disseminar
mais rapidamente as heresias (I Timóteo 5:13; II Timóteo 3:6). Para
aquele contexto foi necessário a recomendação, isto é, aprender em silêncio
pelas razões já mencionadas.
Agora,
se quisermos ler essa passagem em sentido literal e aplicá-lo aos dias atuais,
proibindo que as mulheres ensinem e sejam pastoras, então, por que não aplicar
integralmente proibindo que as mulheres façam seus cabelos e se adornem? Por que
não promover o constrangimento para com aquelas que não conseguem engravidar? Levando
mais adiante a hermenêutica literal em I Timóteo, então, os homens precisariam
sempre levantar as mãos para orar (I Timóteo 2:8; 15).
Quanto
a Paulo mencionar Eva como enganada não é um acréscimo à instrução. Reforça
apenas uma perspectiva cultural na qual ele mesmo estava inserido.
Quando
lemos sua carta aos Romanos no capítulo 16, vemos Paulo destacando muitas
mulheres importantes para a vida da igreja. Das 25 pessoas citadas por ele, 1/3
são mulheres. Havia mulheres tão fortes na liderança como Priscila, que seu
nome é mencionado primeiro e de seu marido depois, o que é incomum para aquele
tempo (Romanos 16:3). Febe era uma diaconisa da igreja (v.1). Ele
saúda Trifena e Trifosa, as quais trabalham no Senhor. Júnias (v.7) era
mulher e poderia ter sido uma apóstola, uma espécie de missionária.
Podemos
concluir que mulheres podem ser ordenadas?
1. A mensagem do Evangelho é única
As mulheres não
pregam nada que difere em conteúdo da mensagem pregada pelos homens. Aliás,
relembrando o que já mencionamos, elas testemunharam da ressurreição em
primeira mão e espalharam a notícia. A mulher samaritana testemunhou a respeito
de Jesus e muitos creram. Qual é o teor da mensagem de Jesus? Tão somente o que
elas anunciaram como testemunhas oculares, o mesmo que os apóstolos. A
autoridade dos ministros de Deus é a própria mensagem. O foco é o conteúdo que
é imutável. Por essa razão, elas podem e devem ser ministras do Evangelho. Hoje,
as mulheres usufruem das mesmas oportunidades de instrução que os homens, algo
que dentro do contexto de Éfeso não era possível. Infelizmente, atualmente
muitos homens têm corrompido a mensagem, enquanto muitas mulheres tem sido
fiéis a todo o desígnio de Deus. Talvez, se tivéssemos um Paulo no século XXI,
em muitas igrejas ele diria: “Ordeno que os homens fiquem em silêncio”. As
mulheres na liderança de nossas igrejas estão tão habilitadas quanto os homens
e não se comparam em conhecimento e preparo das mulheres analfabetas e vítimas
de preconceitos em Éfeso.
2. A liderança no Reino de Deus é em equipe
Jesus deixou
evidente que liderança no Reino é serviço. Portanto, a distinção de gênero é
irrelevante. Liderança no Reino, segundo o modelo de Jesus, é coletividade.
Jesus levantou 12. Uma mulher pode perfeitamente liderar com uma equipe. Nessa
equipe, conforme vemos I Coríntios 11, 12, 13 e 14 precisa fluir os dons e não
há distinção de gênero na distribuição dos mesmos pelo Espírito Santo. Logo, as mulheres também podem ser ordenadas e
liderarem em equipe como devem ou deveriam fazer os homens. A liderança
masculina, que não é em equipe e autoritária, é antibíblica e fora dos padrões
do Reino de Deus. A sujeição da liderança na igreja é mútua. Não há maiorais no
Corpo de Cristo (incluindo homens e mulheres). Que maior seja o menor e servo
de todos. O sacerdócio agora é universal de todos os crentes (I Pedro 2:9).
Assim como o
homem, a mulher deve ser humilde. Se o nosso modelo de liderança humilde é
Cristo, estariam as mulheres desqualificadas?
Para concluir, menciono o que a Igreja
Metodista Livre diz a respeito do tema:
Os metodistas livres reconhecem que Deus concede dons
espirituais de serviço e liderança tanto a homens como a mulheres. Visto que
homem e mulher são ambos criados à imagem de Deus, tal imagem é mais plenamente
refletida quando ambos, mulheres e homens, trabalham em união em todos os
níveis da Igreja. Portanto, todas as posições na Igreja são acessíveis a todos
que Deus chamar.
Rodrigo
Rodrigues Lima