Tema: O Espírito Santo, o Reino de Deus e a Missão da Igreja
A
relação da Grande Comissão com o Espírito de Deus é explícita. Não apenas em Atos 1 e 2, mas também vemos isto em
outras passagens como, por exemplo, em João
20.19.23, onde Jesus diz “recebam o Espírito Santo” e em seguida comunica a
missão. O mesmo se pode ver em Lc 24.47-49. O capítulo primeiro de Atos
introduz o tema do Espírito Santo em estreita relação com tudo que vai
acontecer no decorrer da história da Igreja. O Espírito Santo é a coluna
vertebral de todo o Livro de Atos.
Sabemos que Lucas é o autor tanto do Evangelho de Lucas como também
do Livro de Atos. Ele começa o livro de Atos dizendo: “Escrevi o primeiro
livro, ó Teófilo, relatando todas as coisas que Jesus começou a fazer e a
ensinar até ao dia em que, depois de haver dado mandamentos por intermédio do
Espírito Santo aos apóstolos que escolhera, foi elevado às alturas” (Atos 1.1-2). Ao dizer “começou”, Lucas
certamente quer comunicar que existe agora uma continuidade da obra de Cristo
na missão da Igreja pelo poder do Espírito Santo. A intenção de Deus é de que
tudo o que a Igreja venha a fazer seja a continuação da obra de Jesus e isto só
é possível através da capacitação do Espírito. É uma promessa mais que um
mandamento, quando vier o Espírito Santo, vocês receberão poder (Atos 1.8). Poder para ir as nações e
poder transformador que atua na história. Missão do Espírito e da Igreja se dá
nesta era que vai da primeira a Segunda Vinda de Cristo.
Ainda no capítulo primeiro de Atos, temos a questão a respeito de
quando se daria a restauração do Reino da Israel. Falar em reino é também falar
em poder. Observe, então, que a resposta de Jesus aponta para o fato de que
eles receberiam poder por obra do Espírito Santo e que assim que se daria a
manifestação do Reino de Deus, que não apenas se restringiria a nação de
Israel, mas que teria um alcance muito mais amplo, envolvendo todas as nações.
Pois Jesus não veio para ser apenas o Rei de Israel, mas para ser o Rei de
todas as nações (Jeremias 10.7; Apocalipse
15.3). Vemos o propósito universal do Reino de Deus e da missão da Igreja
também no dia de Pentecostes, no fato da ação do Espírito promover a conversão
de uma multidão proveniente de várias partes do mundo. Tem algo muito
interessante no fato do fenômeno que se deu, a reverso de Babel, quando ali,
pessoas de distintas nacionalidades, estavam podendo entender a mensagem do
Evangelho cada um em sua própria língua materna. O que foi um claro sinal dos
tempos, pois se em Babel, houve a confusão de línguas e a dispersão dos povos,
em Pentecostes, por meio do Espírito, se dá o contrário, pessoas de distintas nações
estão sendo unidas e batizadas na Igreja, formando um só povo que se submete ao
senhorio do Rei das Nações (Atos 2.1s).
O derramamento do Espírito em Pentecoste ocorreu imediatamente após
a ascensão de Cristo e é inseparável dela. Jesus foi entronizado como Senhor e
Messias (Atos 2.36), como o Rei de
todo o Universo, e é desta posição que ele enviou o seu Espírito para capacitar
a sua Igreja a cumprir sua missão de fazer discípulos de todas as nações.i
O Espírito Santo é a fonte da Missão da Igreja. Em Pentecostes,
vemos como o Espírito conduz os discípulos para fora do cenáculo para
proclamação do Evangelho. O início da evangelização dos gentios é de total
iniciativa do Espírito Santo tanto no caso do Etíope (Atos 8.29) como no de Cornélio (Atos 10.19s). Os primeiros versos do capítulo 8 de Atos mostram
como a grande perseguição sofrida pela Igreja em Jerusalém tornou possível a
difusão do Evangelho. E, em Atos
11.19-21, temos o registro de como os discípulos alcançaram outros lugares
do mundo, chegando o Evangelho até os gentios em Antioquia. E Romanos 15.24-28 revelam os planos de
Paulo de levar o Evangelho até os confins do mundo conhecido por ele, a saber,
a Espanha. Em Atos 16.6-13, vemos os
discípulos são impedidos pelo Espírito a pregarem a Palavra na Ásia, e depois
são conduzidos por uma visão do Espírito para a Macedônia. Vemos aí que o
Espírito Santo não dava apenas poder para a missão, mas dava também a direção.
Em Atos 13, vemos que tanto o envio
para missão como também a escolha dos líderes era obra do Espírito Santo. E, em
Atos 15, temos o registro do maior
problema teológico da Igreja primitiva que foi aquele que dizia respeito ao
relacionamento dos judeus com gentios. O próprio Pedro custou a entender que os
gentios estavam incluídos no propósito de Deus como vimos no episódio da
evangelização de Cornélio e sua família. Assim, vimos que foi o Espírito Santo
quem iniciou a Missão (Atos 13.2),
guiou a Missão (Atos 8.29, 16.9) e é
quem trabalha nos corações preparando-os para a recepção do Evangelho (Atos 16.14; João 16.8). E os próprias
virtudes, realizações, dons, sinais e maravilhas são todos obras do Santo
Espírito de Deus na vida do crente e da Igreja (Gálatas 5, 1 Coríntios 12-14, Atos 2), a fim de que possamos ser
uma ilustração viva da realidade do Reino de Deus, que tem o Jesus como Rei, Senhor
e Cabeça.
Até mesmo em coisas corriqueiras, como, por exemplo, a dificuldade
administrativa na distribuição diária de alimentos para os necessitados (Atos 6.1s.). Como resposta a este problema,
foram eleitos sete diáconos que precisavam, para isto, possuir mais do que
aptidões técnicas, necessitavam ser cheios do Espírito Santo (Atos 6.3).
Jesus exerce seu senhorio através da ação do Espírito Santo. Como
Deus disse em Zacarias 4.6: “Não por
força nem por poder, mas pelo meu Espírito”. Não é a soberania de um monarca
arbitrário, mas a de um Messias ou Rei crucificado. É pelo Espírito de Deus que
as pessoas recebem a revelação de que Jesus é o Senhor (1 Coríntios 12.2), assim como foi por revelação do Espírito que
Pedro foi capaz de confessar: “Tu és o Cristo, o Filho do Deus Vivo” (Mateus 16.16, Romanos 8.16). Cristo
significa o Rei Ungido de Deus, o Messias que fora prometido a Israel, que
viria com a incumbência de trazer o Reino de Deus (João 11.27).
Existe um
paralelo entre o fruto do Espírito Santo registrado em Gálatas 5 com as bem-aventuranças descritas por Jesus em seu Sermão
do Monte, pois ambos são uma descrição do caráter de Cristo, que devem também
modelar o caráter cristão. A maior obra do Espírito é transformar cada cristão
na imagem de Cristo, para que sirvam ao propósito de refletir a glória de Deus
na sociedade. O Espírito de Deus está ativo para criar uma Igreja que reflete
os valores do reino. A Igreja não cumpre sua missão apenas pelo que diz, mas
pelo que faz, como decorrência natural do que ela é e de sua relação com o
Senhor. Pelo poder e graça do Espírito Santo a Igreja é capacitada a cumprir
sua missão de ser testemunha do Rei Jesus e de ser sal da terra e luz do mundo,
fermento que leveda a massa.
José Ildo
Swartele de Mello
Bispo – Igreja Metodista Livre