Uma
pergunta muito difícil de ser respondida é esta: Como Deus me vê? A base dessa reflexão está em João 21:15-23
Quando
eu era adolescente queria muito agradar a Deus. Eu gostava de estar na igreja,
gostava muito de ler a Bíblia, sonhava em ser pastor, enfim, eu desejava muito
a Deus.
Mas, fui iniciado na
pornografia em minha adolescência e tinha um impulso muito próprio da idade.
Essa era a minha maior luta.
Quando
fui batizado aos 13 anos, eu acreditava que não pecaria mais, especialmente na
pornografia. Triste ilusão!
A
cada Santa Ceia eu fazia um novo voto com Deus de que eu não cometeria mais
aquele pecado. Eu sentia muita vergonha de mim mesmo e não confiava em ninguém
para me abrir. Meus pensamentos giravam em torno da minha imagem e futuro. “Eu
sou um futuro pastor. O que as pessoas dirão? Como elas me verão se
descobrirem?” Então pensava no pastor, na liderança, nos membros que me
admiravam. Eu não poderia decepcioná-los com meus fracassos. Há uma canção do
Casting Crowns que diz:
Há alguém que fracassa? Há alguém que falha?
Eu sou o único na igreja hoje me sentindo tão pequeno?
Porque quando eu dou uma olhada em volta, todo mundo
parece tão forte.
Eu sei que eles vão logo descobrir que eu não
pertenço.
Então eu escondo tudo como se tudo estivesse bem.
Se eu os fizer acreditarem nisso, talvez eu também
acredite.
Então com um sorriso falso, eu brinco com o coração de
novo.
Então todos vão me ver como eu os vejo.
Nós somos felizes sendo pessoas de plásticos?
Debaixo de torres de plásticos brilhantes com paredes
em volta de nossas fraquezas e sorrisos para esconder a nossa dor?
Então
eu estava me acostumando com máscaras. Às vezes eu levantava as mãos com olhos
fechados num desempenho teatral, mas com o meu coração seco, cheio de culpa e
tentando me reerguer.
Em
acampamentos, os meus amigos abriam o coração e eu queria muito que eles fossem
libertos e curados, mas eu mesmo não tinha coragem para confessar o meu pecado
com medo de não ser aceito, com medo de ser julgado e rejeitado.
Isso afetou
profundamente na minha maneira de ver Deus e me relacionar com Ele, pois, não
compreendia corretamente graça e muito menos santidade. As mensagens sobre
santidade eram sinônimos de cobrança e culpa, não por parte do pregador, mas
por causa da minha condição.
Como
Deus me vê? Veja que essa pergunta não é tão simples. A maneira como me vejo
pode afetar profundamente a maneira como eu vejo Deus e, conseqüentemente, como
penso que Ele me vê.
Por estar tão cheio
de culpa e quebrando vários votos feitos na Santa Ceia me via inapto para me
relacionar com Deus. Sempre soube que salvação era pela graça, mas faltava
alguma coisa. Então, acreditava que estando em todas as atividades da igreja e
me ocupando cada vez mais eu não teria tempo para pecar e Deus se agradaria do
meu coração, pois, fazia tantas coisas para estar perto Dele e longe do pecado
que isso aliviava minha consciência e fortalecia minha espiritualidade fazendo
as coisas da igreja.
Construí uma relação com Deus a
partir das minhas ações e me sentia aceito por Ele e pelas pessoas. Quando
olhava para meus amigos na igreja que não tinham a mesma intensidade e
interesse de atividades como eu, eu tinha dó deles, pois, sabia que mais cedo
ou mais tarde eles não suportariam e se desviariam.
Na verdade, tudo eram um grande
jugo e uma máscara com várias faces, apesar da minha sinceridade. Cresci na
igreja ouvindo pessoas testemunhando de suas conversões impactantes e pensava:
“Será que eu também não deveria ter uma experiência fora da igreja para ser
transformado definitivamente?” Me maravilhava com aquelas experiências que
ouvia.
Bom, queremos muito ter intimidade com Deus e descer a águas mais profundas.
Se quisermos descer às águas
mais profundas precisaremos romper com tudo que torna a nossa vida com Deus
rasa e sem profundidade. Precisaremos estar dispostos a sermos tratados por
Deus e romper com as máscaras. Precisaremos abrir a gaveta onde escondemos
todos os segredos e expor as feridas para sermos curados e libertos.
Temos um problema sério que pode
nos impedir de irmos às águas profundas. Vemos Deus do nosso jeito, ao invés de
sermos do jeito que Deus quer que sejamos. Fazemos Deus vestir a nossa roupa,
projetamos a nossa imagem Nele, ao invés de sermos revestidos e sermos refeitos
À Sua Imagem.
Se tivermos dificuldade de abrir
o coração, nós o veremos como alguém que dificilmente abrirá seu coração
conosco. Se nos acostumamos com pecados de estimação, acharemos que ele nos
entende e nos aceita como somos. Se formos exigentes conosco, também pensamos
que Deus é exigente e que devemos nos esforçar para atingir os elevados
critérios Dele.
Para ser bem honesto, servir a
Deus colocando a nossa roupa Nele não é muito certo. Então observemos duas
verdades:
- Não há nada que você possa fazer por seus
próprios méritos e esforços para ser aceito por Deus.
O fato de você fazer coisas para Deus não lhe fará ser
aceito por Ele. Também fazer as coisas certas não. Deus não o aceita pelo que
você faz a Ele.
- Entenda, Deus te ama! Ele te ama não por causa do
teu desempenho (se você faz coisas para Ele) e sim porque a imagem Dele se
encontra em você.
Deus criou você porque Ele te amou. O amor de Deus por
você não está preso ao seu desempenho. O amor de Deus por você não é medido pelo
seu desempenho.
Pedro, o discípulo de Jesus enfrentou essa crise,
pois, precisou aprender que Jesus o amava não por causa do seu desempenho, mas
porque Jesus simplesmente o amava e isso era suficiente para que futuramente
fosse transformado. Veja:
I.
Não adianta desempenho e auto-suficiência
Pedro era sincero, mas muito autoconfiante. Ele servia
a Jesus com toda a sua vontade, mas era muito cheio de si, muito autoconfiante.
Ele confiava tanto em seus esforços que Ele disse a Jesus: “por ti darei a
própria vida.” (João 14:37). Dizemos a mesma coisa todas as vezes que decidimos
parar de pecar com votos na Santa Ceia. Dizemos a mesma coisa todas às vezes
que decidimos não faltar mãos aos cultos como uma maneira de agradar a Deus.
Dizemos a mesma coisa todas as vezes que decidimos por nós mesmos. Ao que Jesus
respondeu a Pedro: “em verdade, em verdade te digo que jamais cantará o galo
antes que me negue três vezes. (João
14:38)
Assim somos nós! Especialmente
em retiros. Muitos acreditam que terão a experiências de suas vidas porque
fizeram um compromisso de ir a um acampamento, fizeram um sacrifício pagando
caro por ele e não serão mais os mesmos. Terão o desempenho que agrada a Deus e
serão aceitos por Deus. Não! Não é assim!
II.
Não adianta só um sentimento, vestir a capa, viver de
votos ou tentar fazer o certo
Jesus foi preso pelos soldados. Vamos ver as reações
do sincero Pedro:
- Pedro decepa a orelha do soldado por Jesus. (João
18:26) São seus esforços por Jesus.
- Pedro foi visto com Jesus. (Mateus 26:69) Pedro,
sincero que era, estava com Jesus. Foi visto com Jesus. Assim reconheceram
as pessoas que prenderam Jesus.
- Pedro parecia com Jesus. (Mateus 26:73)
Definitivamente, Pedro era tão sincero que seu jeito de falar e andar era
parecido com o de Jesus, mas ele tinha um problema. Queria servir a Jesus
do seu jeito.
Perceba
que não foi suficiente para Pedro decepar a orelha do soldado, estar com Jesus
e até se parecer com Ele. Não adianta frequentar a igreja, fazer parte de um
ministério, falar evangeliquês e ter jeito de crente. Servir a Jesus do nosso
jeito sempre na hora “H” nos levará a negá-lo.
Sabe
todas as vezes que você sempre quis fazer o certo, mas na hora “H” errou?
Então, a pergunta que não quer
calar: Como Deus é? Como devemos vê-lo? Como Deus me vê? Como romper com tudo o
que nos impede de descermos às águas mãos profundas? De onde vem a coragem para
tirar as máscaras, abrir a gaveta das coisas ocultas, expormos as feridas e
sermos curados e libertos de maneira que não queiramos mais servir a Deus por
desempenho, mas por amor?
- Jesus revela o Pai compassivo em
sua atitude para com Pedro (v. 15)
Jesus não cobrou Pedro. Jesus não jogou na cara de
Pedro tudo o que Ele havia feito de errado. Jesus revela o Pai compassivo do
Filho Pródigo em sua atitude. Pedro não tinha mais como fazer nenhuma promessa
a Jesus, a não ser reconhecer seu fracasso para experimentar o olhar compassivo
de Jesus. Esse é o segredo daquelas conversões poderosas que vez por outra
ouvimos. Geralmente a pessoa diz que estava no fundo do poço, ou seja, ela não
tinha nada a oferecer a Deus, além do seu fracasso. Quando a pessoa chegou ao
fundo do poço em que estava totalmente exposta de vergonha, desprezo e rejeição
por todos à sua volta, a pessoa se rendeu ao único que não estava preocupado com o seu desempenho. Assim foi com a
mulher adúltera. Ele não nos ama por causa do nosso desempenho. Lembra-se
disso? Mas, seu amor é o que precisamos para receber cura e libertação.
- Jesus revela o Pai que se aproxima
do filho fracassado e arrependido (v. 15)
Jesus inicia um diálogo com Pedro. Na nossa versão
bíblica não compreendemos a profundidade desse diálogo. Ele se dá mais ou menos
assim – Jesus: “Pedro, você me ama com amor desinteressado, amor esse que me
põe acima de tudo e de todos e que não espera nada em troca e que está acima
mesmo da sua vida?” Pedro responde: “Senhor, você sabe que tenho muita
consideração por você.” Jesus pergunta mais uma vez a Pedro obtendo a mesma
resposta. Então, na terceira vez Jesus pergunta: “Pedro, você tem muita
consideração por mim então? Pedro, magoado, ressentido responde: “Sim Senhor! “Eu
tenho muita consideração por você”. Em outras palavras, Pedro está afirmando
que seu desempenho havia fracassado e que não adiantava fazer mais promessas,
era o Pedro insuficiente e incapaz. Ele sabia que não conseguia corresponder ao
amor de Jesus no mesmo nível. Mas, o mais impactante dessa história toda é que
Jesus diz para ele três vezes: “Apascenta as minhas ovelhas”. Jesus se aproxima
de Pero, do coração do Pedro incapaz e o restaura.
Esse Pai que nos mostra que não somos bons e que não
nos ama por causa do nosso desempenho é capaz por meio do Seu amor de nos
restaurar e enviar. Mas, para isso, precisamos abrir a gaveta, tirar as
máscaras, mostrar as feridas e conhecer que precisamos Dele. Ao decretar nossa
falência, Jesus se aproxima para nos restaurar.
Deus quer que você se veja como
Filho. Meu filho Miguel não precisa fazer nada para aumentar meu amor por Ele.
Eu simplesmente o amo. Não somos empregados de Deus, mas seus parceiros. Isso é
graça! O irmão do filho pródigo estava em casa com o pai, mas vivia como
escravo trabalhando todo o tempo como que para merecer o amor e o
reconhecimento do pai. O pai lhe disse: “Filho, tudo o que é meu é teu.”
Como está o seu coração? Muitas
coisas na vida ferem o nosso coração nos impedindo de ver Deus como Ele é e de
nos vermos quem somos Nele. Mágoas, pais ausentes, decepções, urgências da vida
e do dia a dia, o fazer e fazer, o pecado, a culpa, enfim, muitas coisas podem
endurecer o nosso coração e nos afastar de Deus nos levando a cair mais uma vez
nas armadilhas das máscaras. As águas nunca sobem, porque não confiamos no amor
de Deus para que elas saiam além do tornozelo.
Como você se vê hoje? Como Deus
o vê? Como Jesus viu a Pedro? Está na hora de você se ver como o Pai o vê
através de Cristo Jesus. Se você deseja isso, deverá se render voluntariamente
dos seus motivos e justificativas que tem te levado a viver de forma não tão
profunda quanto gostaria. Ir para o caminho da humilhação, da entrega, e do
quebrantamento se rendendo a Deus. Não há transformação se não houver confissão e arrependimento. Esse é o caminho da mudança, o caminho para mergulhar em águas profundas.
Rodrigo Rodrigues
Lima,
Pastor