A
genealogia de Jesus, O Rei
Mateus 1:1-17
Vivemos numa
geração que tem “cristianizado” ensinos e ritos do Antigo Testamento. Além
disso, atualmente há uma expectativa equivocada de que o Reino de Deus se
estabeleça em nações por meios políticos e sob o governo da igreja. Jesus não
permitiu que isso acontecesse quando os judeus quiseram proclamá-lo rei.
Esperava-se um messias político que os libertaria das garras do Império Romano,
mas Jesus frustrou os seus planos. Então, como devemos atuar como agentes desse
reino hoje?
Mateus
vivia os desafios que enfrentamos hoje, isto é, a tentativa misturar ritos
judaicos com a fé cristã, a mistura do cristianismo com práticas pagãs de
outras religiões e a confusão quanto ao modo que os cristãos deveriam viver e
se relacionar com a sociedade. O Reino de Deus é de uma lógica completamente
invertida e perceberemos isso à medida que avançarmos a cada episódio da vida
de Jesus e de seus ensinamentos.
O
evangelho de Mateus oferece para a igreja cristã de todos os tempos três
ferramentas indispensáveis: a) A defesa do evangelho contra a tentativa de
judaizar a mensagem da graça, ou seja, usar ritos e ensinos da lei como meios
para a salvação e a vivência da fé cristã, o que não cabe mais; b)
Instruir os convertidos de todas as eras em como viver vida cristã sob os
princípios e valores do Reino, de acordo com as atitudes e as palavras de
Jesus; c) Como fazer um culto no qual Jesus é o centro da verdadeira
adoração.
Mateus apresenta em todo o evangelho que Jesus é “O Messias” e que o Seu reino foi inaugurado. Assim nos perguntamos: Como vivem os súditos desse reino? Quais são os princípios éticos e a vida do Reino? Qual é a missão desse reino sob o governo do Messias? Quais as implicações desse reino entre nós? Como as pessoas do reino se relacionam entre si? Qual é o futuro desse reino? É o que nos propomos a expor ao longo deste ano.
No
episódio de hoje abordaremos sobre a necessidade de uma genealogia. A genealogia
era importante para os judeus. Era necessário comprovar que uma pessoa era de
determinada linhagem, para que tivesse acesso à propriedade, herança,
legalidade e direitos.
Se Mateus
tem o propósito de revelar Jesus como o Cristo (Messias) e o Rei dos judeus,
alguém com acesso a propriedade, herança, legalidade e direitos nesses termos
de Rei, ele começa o seu evangelho mostrando a linhagem de Jesus a partir da
linhagem real de Israel. Se Jesus é rei, deve haver provas de que Ele vem da
família real reconhecido. Identificaremos aspectos da graça de Deus lições
importantes a respeito da genealogia de Jesus.
A graça
de Deus é vista na história de três eras. É a história de Deus com o seu povo
que nos traz aspectos importantes até à chegada do Messias.
Primeiro,
o período de Abraão a Davi, marca a história primitiva. Foi o período dos
patriarcas, e de Moisés, Josué e os juízes. Foi um período de peregrinação, de
escravidão no Egito, de libertação, de tomada de aliança, estabelecimento da
lei, conquistas e vitórias. Tudo isso apontava para Jesus. Moisés era um tipo
de Cristo. A libertação da escravidão do Egito por Moisés apontava para a
libertação da escravidão do pecado por Jesus. A antiga aliança preparava
caminho para a nova aliança.
Segundo,
o período de Davi até o cativeiro babilônico. Foi marcado pela monarquia com reis
que, em sua maioria, conduziu o povo para longe de Deus e os colocou em apuros.
Foi um período de declínio, apostasia e tragédia. Houve derrotas, conquistas,
exílio, destruição de Jerusalém e do Templo. Apenas Davi, Josafá, Ezequias e
Josias revelaram aspectos de uma fé em Deus. Entretanto, de Davi descenderia o
rei cujo reinado será justo e eterno.
Terceiro,
o período do cativeiro babilônico até o tempo de Cristo. Tempo de cativeiro,
frustração e silêncio da parte de Deus. Um período envolta de grandes trevas.
Foi a era das trevas de Israel.
É através
da história do povo de Israel que Deus envia o nosso Salvador. É assim que o
Messias continua irrompendo, invadindo subitamente e com ímpeto na história
humana. Todos têm uma história de escravidão, e derrotas pelo pecado, de
silêncio divino, e então, Ele entra na história de nossas vidas para ser o Deus
Conosco! Deus é o Senhor da história e tem propósitos eternos!
Jesus
é descendente de Davi. Quero destacar aqui a história do pecador Davi. Ele pecou
terrivelmente ao cometer adultério com Bate-Seba e depois piorou a situação
mandando matar Urias, seu esposo, para se casar com ela. Ele foi um guerreiro
que matou muitos homens, o que lhe impediu de construir o templo (I Crônicas
22:8). Davi fracassou como pai. Seus filhos lutavam e matavam por poder. Jesus
é descendente de Abraão. Embora um homem de fé, mentiu duas vezes sobre a
sua esposa. Trouxe vergonha para Sara, para si e para Deus.
Um olhar mais atento sobre os descendentes de Abraão e de Davi, veremos que foram pessoas marcadas por infidelidade, imoralidade, idolatria e apostasia.
Além
desses dois homens importantes na história dos judeus, Mateus inclui quatro
mulheres de outras nações na genealogia.
Jesus é descendente de Tamar (Gênesis 38). Uma mulher estrangeira, viúva do filho primogênito de Judá, que engana seu sogro Judá, vestindo-se de prostituta para se deixar com ele e garantir a descendência do seu falecido esposo. Isso nos lembra do fracasso de Judá. Jesus é descendente de Raabe (Josué 2). Outra mulher estrangeira, que por profissão era prostituta e que havia protegido espias israelitas. Deus não apenas a poupou na destruição de Jericó como a colocou na linhagem messiânica, sendo mãe de Boaz que foi bisavô de Davi. Jesus é descendente de Rute, moabita (Rute 1:4). Ela renunciou a sua fé pagã para seguir Noemi e fez do Deus de sua sogra o seu Deus. Ela se tornou a bisavó do grande Rei Davi. Jesus é descendente de Bate-Seba (II Samuel 11). Apenas mencionada na genealogia como “aquela que tinha sido a mulher de Urias” (Mt 1:6).
Perceba
que Jesus entra na história através de homens e mulheres com vidas marcadas
pelo pecado. Vemos claramente a graça de Deus atuando e comunicando que Jesus
veio para salvar e resgatar o que estava perdido. Talvez sua história seja de
abominações e segredos que ninguém pode imaginar. Talvez você esteja carregando
culpas passadas! Observe que Deus não ocultou a vida pregressa dos descendentes
do Messias para revelar a Sua Graça, em que homens e mulheres com a vida
marcada pelo pecado tiveram o privilégio de terem em sua descendência o
Salvador da humanidade. Jesus se identifica com a humanidade para resgatá-la.
Enquanto Mateus
apresenta a genealogia de José, o pai de Jesus aos olhos da lei, Lucas dá a
genealogia de Maria. Maria e José eram descendentes diretos de Davi. Para que
se cumpra a promessa no que é chamado de protoevangelho, que é a primeira
comunicação de Deus aos homens a respeito da salvação, conforme está escrito em
Gênesis 3:15: “Porei inimizade entre você e a mulher, entre a sua
descendência e o descendente dela. Este lhe ferirá a cabeça, e você lhe ferirá
o calcanhar.” Jesus é o descendente aqui mencionado! Em Gálatas 4:4 Paulo
destaca “Mas, quando chegou a plenitude do tempo, Deus enviou o seu Filho,
nascido de mulher...”. Por que ele diz isso? Jesus é divino (como Filho de
Deus) e humano como filho de Maria. Portanto, a divindade, a humanidade e a
justiça de Cristo o qualificaram de maneira especial para ser o redentor do
mundo.
Na língua
hebraica “mashah” significa unção. No Antigo Testamento, quando se separava uma
pessoa para os ofícios de sacerdote, profeta ou rei, lhe ungia a cabeça
com óleo da unção. Ninguém poderia oferecer um sacrifício aceitável a Deus pelos
pecados dos homens, ou ministrar as coisas santas se não fosse um sacerdote
ungido de Deus. Ninguém poderia promulgar leis justas e governar o reino
com poder e autoridade se não fosse um rei ungido de Deus. Ninguém
poderia profetizar e conduzir o povo aos ensinos da aliança se não fosse um
profeta ungido de Deus.
Porém, o povo de Israel espera por um “Mashiach”, que significa a pessoa ungida. Eles aguardavam o único homem digno de ocupar os três ofícios, o único digno do título de Mashiach. O Antigo Testamento prometia a vinda do Justo Servo do Senhor (Isaías 42:1-9), que seria um profeta como Moisés (Deuteronômio 18:18-19), um sacerdote segundo a ordem de Melquisedeque (Salmo 110:4) e um Rei como Davi e seu reinado será eterno (Isaías 9:7). Jesus é o ungido que acumula os três ofícios. Ele é o Cristo (Messias). Só Ele é o Rei dos Reis e Senhor dos Senhores: o rei que governa o universo e o coração dos seus discípulos; Ele é o profeta, para instruir os homens no caminho por onde devem ir; Ele é o grande sumo sacerdote, para fazer expiação por nossos pecados. Mateus revela que Jesus é o Cristo, o prometido Rei e Libertador. Poderosa compreensão da genealogia de Jesus!
No amor
de Cristo,
Rodrigo
Rodrigues Lima, Pastor