Orientações
sobre o jejum
O jejum é a completa abstinência de alimento, exceto água, por um
período determinado de tempo acompanhado de consagração e oração. Mais do que
qualquer outra disciplina espiritual, o jejum é alvo mais frequente de ataques
e resistências.
Para muitos hoje, a ideia de ficar sem comer por vinte e quatro
horas parece extremamente penosa e muitos possuem o falso conceito de que o
jejum é prejudicial para o organismo. Além disso o jejum não é uma prática
exclusivamente cristã, mas é praticado por budistas, hinduístas e muçulmanos,
por causa disso é visto com desconfiança por muitos cristãos sinceros.
O jejum, porém, não deve ser entendido apenas como abstinência de
alimentos. É preciso também haver muita oração. No mundo as pessoas fazem greve
de fome, visando proeminência e poder político, mas isso não é jejum. Também há
aqueles que fazem dieta para emagrecimento usando o jejum, mas isso não é o
jejum bíblico. Essas duas coisas não são erradas, mas não são jejum bíblico,
pois este tem um objetivo unicamente espiritual.
Além disso, quando se jejua o corpo, como defesa, começa a queimar
as calorias mais devagar tentando se proteger. Dessa forma, enquanto você não
está comendo, você perde peso, mas, quando volta a comer normalmente, seu corpo
ainda leva um tempo para se reprogramar e não queima as calorias como antes e,
como resultado, você acaba mais gordo do que antes.
Existe uma ordem bíblica para jejuar?
Não há regras na Bíblia sobre quando e como jejuar. Também não
existe uma ordem bíblica para jejuar. No Velho Testamento, havia somente um dia
de jejum, instituído para toda a nação: o dia da Expiação (Lv 23.27). Mais
tarde, nos dias de Jeremias, esse dia ficou conhecido como “o dia do jejum” (Jr
36.6). Quando lemos os ensinos de Jesus, não há como negar que o Senhor espera
que jejuemos.
Quando jejuardes, não vos mostreis contristados como os
hipócritas; porque desfiguram o rosto com o fim de parecer aos homens que
jejuam. Em verdade vos digo que eles já receberam a recompensa. Tu, porém,
quando jejuares, unge a cabeça e lava o rosto, com o fim de não parecer aos
homens que jejuas, e sim ao teu Pai, em secreto; e teu Pai, que vê em secreto,
te recompensará. (Mt 6.16-18)
Observe que o Senhor não disse “se jejuardes...”, mas “quando
jejuardes...” Isso revela que Ele esperava que os discípulos jejuassem. Ele até
os instruiu quanto à motivação e à maneira como deveriam jejuar. Mas o Senhor
deixou bem claro que a prática do jejum nos moldes dos fariseus estava errada.
A motivação era impura, as pessoas jejuavam para mostrar aos outros sua
espiritualidade e religiosidade supostamente superior. O Senhor disse que a
maneira correta de jejuar é sem alarde, em secreto. O jejum é uma completa
perda de tempo quando feito com motivação errada. Por outro lado, se jejuarmos
da maneira de Deus, certamente a nossa oração será ouvida.
Qual é o propósito do jejum?
Não veja o jejum como uma espécie de penitência que você faz com o
intuito de persuadir Deus a fazer algo que Ele não quer fazer. O jejum não muda
Deus. Ele é o mesmo antes, durante e depois de seu jejum. Mas jejuar com certeza mudará você. Vai ajudar você a ser mais sensível
ao Espírito de Deus.
O jejum toca em
nossa carne. O jejum não tornará Deus mais bondoso ou
misericordioso para conosco, mas rompe com as barreiras e limitações da nossa carne
e nosso corpo. Qualquer um que procura mais intimidade com Deus já percebeu
o quanto o nosso corpo pode ser um obstáculo para essa comunhão. Quando
jejuamos o corpo se abate, o nosso espírito se levanta e nossa fé é liberada
com mais ousadia, assim podemos ter mais enchimento do Espírito Santo.
O propósito
primário do jejum é mortificar a carne para nos fazer mais sensíveis ao
Espírito Santo. Não pense, porém, que o jejum tem algum poder
nele mesmo como uma espécie de poder mágico. A verdade é que o jejum ajuda a
liberar a nossa fé. A fé está em nosso espírito, e quando o espírito é
liberado, a fé se manifesta. O que nos dá vitória sobre o inimigo é o que
Cristo fez na cruz e a autoridade do seu nome. O jejum em si não nos faz
vencer, mas libera a fé para o combate e nos fortalece, fazendo-nos mais
conscientes da autoridade que nos foi delegada.
Qual deve ser a frequência do jejum?
Só existia um jejum anual exigido na lei de Moisés, no dia da
Expiação, em Levítico 23.27. Entre os primeiros cristãos, era uma prática
estabelecia ter dois jejuns semanais, às segundas e quartas. Isso está
registrado no “Didaquê”, uma obra do primeiro século que fala dos costumes dos
primeiros cristãos.
Não existe hoje nenhum mandamento para que os cristãos jejuem, mas
há épocas em que frequentemente sentimos mais necessidade de jejuar, porém,
penso que um jejum normal de um dia de duração seja algo que todo cristão
deveria praticar sistematicamente, mesmo sem sentir nenhuma necessidade
espiritual para isso.
Qual a duração do jejum?
A Bíblia não determina regras desse tipo, portanto cada um é livre
para escolher quando, como e quanto jejuar. Nas Escrituras existem vários
exemplos de jejuns:
·
1 dia - O jejum do Dia da Expiação
·
3 dias - O jejum de Ester (Et 4.16) e o de Paulo
(At 9.9)
·
7 dias - O jejum por luto pela morte de Saul (1
Sm 31.13)
·
14 dias - O jejum de Paulo no navio (At 27.33)
·
21 dias - O jejum de Daniel em favor de Jerusalém
(Dn 10.3)
·
40 dias - O jejum do Senhor Jesus no deserto (Lc
4.1,2)
A Palavra de Deus também fala a respeito do jejum de Moisés e de
Elias (Ex 34.28; 1 Re 19.8). Eles jejuaram por períodos de quarenta dias, mas
todos os estudiosos concordam que esses jejuns foram sobrenaturais. Eles nem
sequer beberam água nesses quarenta dias, o que é humanamente impossível.
A Bíblia diz que Elias caminhou quarenta dias no deserto com a
força do alimento que o anjo lhe trouxe. Ele recebeu uma comida sobrenatural
para realizar um jejum também sobrenatural. A respeito de Jesus, o evangelho
diz que no final de quarenta dias Ele teve fome, mas não se menciona que teve
sede. Isso deve indicar que Jesus fez um jejum normal com a duração de quarenta
dias. Mas tenha muito cuidado ao fazer o voto de um jejum para que seu voto não
seja insensato e depois venha a quebrá-lo. A Palavra de Deus é muito séria quanto
aos votos:
Quando a Deus fizeres algum voto, não tardes em cumpri-lo; porque
não se agrada de tolos. Cumpre o voto que fazes. Melhor é que não votes do que
votes e não cumpras. (Ec 5.4,5)
É importante que você tenha um alvo quanto à duração do jejum no
coração, mas não transforme isso em voto. O mais comum em nosso meio são os
jejuns de um dia durante vários dias. Duas vezes por ano jejuamos 21 jejuns de
um dia, ou seja, durante 21 dias jejuamos com uma refeição por dia. Se você
planeja fazer um jejum de mais de três dias, precisa receber uma orientação
especial.
Quais são os tipos de jejum?
São mencionados na Bíblia pelo menos três tipos de jejum.
1. O jejum
parcial
O jejum parcial se refere mais a uma dieta restrita do que à
abstinência. O exemplo clássico é Daniel. Não por acaso, o jejum parcial é muitas
vezes chamado pelos irmãos de jejum de Daniel.
Naqueles dias, eu, Daniel, pranteei durante três semanas. Manjar
desejável não comi, nem carne, nem vinho entraram na minha boca, nem me ungi
com óleo algum, até que passaram as três semanas inteiras. (Dn 10.2,3)
A Palavra de Deus não diz qual foi a sua dieta durante o jejum,
mas se tomarmos como padrão o que Daniel fez logo que chegou à Babilônia, podemos
supor que o seu jejum incluía apenas legumes, frutas e água. O texto, porém,
diz claramente que o profeta Daniel ficou sem ingerir carne, vinho e manjar
desejável. Creio que podemos incluir João Batista nesse tipo de jejum. Ele na
verdade vivia uma vida “jejuada”, sua dieta consistia apenas de gafanhoto e mel
silvestre. Um jejum muito comum hoje em dia é o jejum apenas com líquido. Mas
se você deseja fazer um jejum parcial, o melhor é que pare de comer carne e
doces e coma apenas legumes e frutas. Além de ser muito saudável, esse jejum tem
grande poder espiritual.
2. O jejum normal
O jejum normal é aquele em que nos abstemos de todo tipo de
comida, mas não deixamos de beber água. O jejum de Jesus certamente foi um
jejum normal. A Bíblia diz que Ele não comeu, mas não afirma que Ele bebeu. Diz
que Ele teve fome, mas não que teve sede. Como a água não é alimento,
concluímos que Ele bebeu água durante os quarenta dias de jejum.
Jesus, cheio do Espírito Santo, voltou do Jordão e foi guiado pelo
mesmo Espírito, no deserto, durante quarenta dias, sendo tentado pelo diabo.
Nada comeu naqueles dias, ao fim dos quais teve fome. (Lc 4.1,2)
Eu recomendo que você não faça jejum sem beber bastante água. O
jejum normal é o tipo mais apropriado para a prática regular do jejum.
3. O jejum total
ou absoluto
Esse é o jejum que exclui tanto o alimento quanto a água. A água
não é alimento, e nosso corpo depende dela a fim de que os rins funcionem
normalmente e as toxinas não se acumulem no organismo. A maior duração bíblica
desse tipo de jejum é de três dias, provavelmente porque é o máximo possível
para não prejudicar o organismo.
Há dois exemplos bíblicos deste tipo de jejum, um no Velho e outro
no Novo Testamento. Paulo estava indo pelo caminho de Damasco quando se
encontra com o próprio Cristo, que se revela a ele e o confronta. Depois disso
ele fica três diz de jejum total.
Esteve três dias sem ver, durante os quais nada comeu, nem bebeu.
(At 9.9)
O outro exemplo é o de Ester. Num momento de crise em que os
judeus estavam condenados à morte por um decreto do rei, ela pede a seu tio
Mordecai que faça um jejum total por ela.
Vai, ajunta a todos os judeus que se acharem em Susã, e jejuai por
mim, e não comais, nem bebais por três dias, nem de noite nem de dia; eu e as
minhas servas também jejuaremos. Depois, irei ter com o rei, ainda que seja
contra a lei; se perecer, pereci. (Et 4.16).
Não há qualquer outra menção de um jejum total maior do que esses,
exceto o de Moisés e Elias, que foram sobrenaturais. Um jejum sem água pode ser
letal para o organismo. Lembre-se de que nossa luta é contra a carne (natureza e
impulsos) e não contra o nosso corpo.
4. Orientações práticas
sobre o jejum
Existem muitas dúvidas a respeito do jejum, mas, se agirmos com
bom senso, poderemos lidar com todas elas. Não pense que o jejum é uma
disciplina espiritual complicada reservada apenas aos mais espirituais. As
coisas de Deus são simples, por isso encare o jejum com simplicidade e bom
senso.
Quando o jejum
não é recomendado – Existem pessoas que não podem fazer um jejum normal.
Pessoas que estão sob medicamento controlado, diabéticos, mulheres grávidas e qualquer
pessoa doente não deve jejuar com abstinência completa de alimentos. Creio que para
muitas delas seja possível fazer o jejum parcial, em que se absterão apenas de
alguns tipos de comida. Em todo caso, é importante consultar um médico. Só ele
pode dar uma orientação de como agir em cada caso.
Dores e enjoos
– É normal
ter dor de cabeça no início de um jejum, mas qualquer outra dor é sinal de que
há algo errado, por isso procure um médico imediatamente. O primeiro dia é o mais difícil por causa da dor de cabeça. Ela é
um sinal de que o seu corpo entrou num processo de purificação e as toxinas existentes
no organismo estão sendo expelidas.
Mal-estar
físico – É normal sentir pequenas tonturas durante um
jejum prolongado. A melhor maneira de lidar com elas é evitando se movimentar bruscamente
ou rapidamente.
Fraqueza e
desânimo – É normal que você se sinta mais fraco, mas a
fraqueza não pode ser confundida com desânimo.
Líquido – Para quem tem dificuldade de beber água durante o jejum, tente beber
sucos leves. Evite os engarrafados e os refrigerantes. Você pode também beber
sucos de vegetais passados na centrífuga e diluídos em água. Tudo, porém,
depende do tipo de jejum que você decidiu fazer.
Água – É melhor que a água não seja gelada. Se não quiser tomar suco,
você pode pingar algumas gotas de limão ou de laranja num copo d’água, ou ainda
um pouco de mel. Lembre se de beber pelo menos dois litros de água por dia.
Exercício – Evidentemente o tempo de jejum não é o momento para fazer academia
e musculação, mas você pode fazer caminhadas, sem se expor muito ao sol. Orar
caminhando vai te ajudar a jejuar usufruindo tanto os benefícios espirituais
quanto os físicos.
Jejum no
trabalho – Escolha um tipo de jejum que seja mais
apropriado ao seu trabalho. O melhor é jejuar de almoço a almoço. Se você
deseja fazer um tempo mais prolongado de dois ou três dias, então o faça no
final de semana.
Magreza – Mesmo as pessoas magras podem jejuar normalmente. Nem todo magro o
é porque come pouco, assim, pode ser que tenham as mesmas dificuldades para
jejuar que uma pessoa mais pesada. As pessoas magras recuperam o seu peso
normal mesmo depois de um jejum mais prolongado.
Insônia – Algumas pessoas sentem insônia ou ficam com o sono mais leve
durante o jejum. Isso acontece porque a mente fica superativa. Por isso evite
muita atividade antes de dormir e resista à tentação de dormir durante o dia. Descanse, mas não durma, se quiser
evitar a insônia à noite.
Relações
sexuais – Muitos casais se abstêm de comida e também de
relações sexuais durante o jejum. A Palavra de Deus orienta que isso pode ser
feito somente com o consentimento do cônjuge (1Co 7.5). Evite incluir a
abstinência sexual no seu jejum para não incorrer em tentações.
Nenhum comentário:
Postar um comentário